O cancelamento pelo segundo ano consecutivo do Carnaval  não entristece apenas os foliões mais engajados. Sem a festa  –  que movimenta o setor hoteleiro, restaurantes, bares, dentre outros setores – a economia de Salvador  deixará  de movimentar cerca de R$ 2 bilhões este ano,  impactando  diretamente milhares de trabalhadores e empresas cuja receita está atrelada à festa tradicional.

O cálculo do prejuízo foi feito pelo economista Gustavo Pessoti, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), utilizando como base uma estimativa feita pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). “Já existe um estudo, mas sempre vemos uma tendência de aumento na festa. Se as coisas tivessem funcionando normalmente e, dado ao processo de inflação em 2021, repassando a alta dos preços em 2022, o que é normal, deixaria de circular aproximadamente R$ 2 bilhões Salvador”, explica o economista.

Em 2021, o SEI estimou que 1 milhão e 200 mil pessoas deixariam de visitar a capital baiana, o que representaria uma perda de R$ 1,8 bilhão em movimentação financeira. Os dados sobre o Carnaval mais recentes da Secretaria Municipal de Cultura Turismo de Salvador (Secult), estimam o mesmo valor para a movimentação econômica gerada pela festa em 2020. Além da geração de 1,9 mil empregos.

“É um contingente significativo que deixa de alimentar toda uma cadeia produtiva, desde artistas até todas as pessoas envolvidas na produção, sem falar da cadeia econômica que está atrelada. A Confederação do Comércio estima que mais de 35 setores econômicos são atingidos pela movimentação turística”, diz Isaac Edington, presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur).

Apesar da perda de dinheiro em circulação, a Prefeitura de Salvador afirma que a não realização do Carnaval não gerará impactos significativos na receita do Imposto Sobre Serviço (ISS) em 2022. “A Prefeitura já contabiliza R$ 3.195.311,73 de receita do ISS para o setor de eventos, turismo e hospedagem. No mesmo período em 2021, a receita foi de R$ 2.408.021,79”, disse em nota. A gestão ressalta que o cancelamento da festa devido à pandemia gera impactos econômicos para o setor cultural, bem como para outros subsegmentos indiretamente afetados com a festa.

O secretário de Turismo da Bahia, Maurício Bacellar, reconhece que a perda de arrecadação do Carnaval é significativa para o estado, mas defende que as 13 zonas turísticas da Bahia têm atraído viajantes do país e do exterior. “Eu entendo que não vamos ter neste período o folião, vamos ter outro tipo de turista. A economia perde por um lado, mas essa perda será amenizada pela vinda de pessoas atrás de outros atrativos”. Segundo ele, a movimentação no Aeroporto da capital é semelhante à da época do Carnaval.

O economista Gustavo Pessoti explica que a situação econômica do país e não somente a pandemia da covid-19, é empecilho para que os turistas frequentem Salvador. “O turismo é mais incentivado quando a economia vai bem, quando a empregabilidade das pessoas é mais estável e quando a situação do crédito possibilita mais parcelamentos. Nesse momento temos desvantagens e a tendência deste ano é uma taxa negativa para o país, de 0,5%”, afirma.

Sem dúvidas, o setor de eventos é um dos mais afetados pelas condições econômicas atuais, incluindo o cancelamento do Carnaval de Salvador. Moacyr Villas Boas é presidente da Associação Baiana dos Produtores de Eventos (Abape) e, apesar de concordar com as condições sanitárias impostas pela pandemia, defende que faltam políticas públicas para a categoria.

“Temos plena consciência de que não é possível fazer o Carnaval como todos conhecem nas condições atuais. A nossa queixa é a falta de políticas públicas permanente de todos os governos, em especial o estadual, e de uma ajuda perene até que as coisas se normalizem”, afirma.

Moacyr lembra que muitas pessoas e setores são beneficiados mesmo que indiretamente pela festa: “A partir do momento em que é feito um evento que traz pessoas para a cidade, toda a economia se movimenta, são dois milhões de pessoas na rua por dia. Falo das companhias aéreas, hotéis, restaurantes, bares, motoristas, trabalhadores informais”. Correio da Bahia