A tragédia da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, completa nesta quinta-feira (25) seis meses. No dia 25 de janeiro, uma onda de lama, causada pelo rompimento da barragem B1 na Mina do Córrego do Feijão, invadiu a área administrativa da Vale e parte da cidade. Lecilda de Oliveira trabalhava na Vale há quase 30 anos. É uma das pessoas que até hoje não foram encontradas depois da tragédia do dia 25 de janeiro, em Brumadinho.

Na época, consolava uma amiga pela perda da mãe. “A gente começa a lembrar das pessoas e sentir falta delas né? Saudade é uma coisa que dói. Mas eu espero que você esteja bem, porque a gente tem que tocar, seguir em frente apesar de todas as tristezas né?”.

Natalia de Oliveira, irmã de Lecilda, diz que essa fala agora serve de consolo pela perda dela. “Meu telefone é 24 horas. Eu vigio ele de dia, de noite, de madrugada, eu tenho pesadelos, eu nunca tomei remédios e agora, para dormir, é só com remédio porque a gente fica lembrando, a gente pensa se ela sofreu, se ela gritou por socorro”, completa a irmã.

Apesar de ter se passado seis meses, 180 dias ou 4.320 horas, o tempo corre diferente para quem ainda espera para enterrar o filho, o marido ou a irmã. É como se o relógio tivesse sido travado no dia 25 de janeiro de 2019, ao meio dia e 28 minutos. Foi nesse horário que a barragem da Vale se rompeu despejando 12 milhões de metro cúbicos de lama, que destruiu o que encontrou pelo caminho.

O trabalho dos bombeiros não parou desde o dia da tragédia. Muitos corpos são encontrados incompletos, o que dificulta o trabalho dos peritos. 138 fragmentos estão no Instituto Médico Legal (IML) ainda sem identificação.

A tecnologia tem sido aliada, especialmente na identificação por DNA. “Esses segmentos, por vezes, são muito pequenos e em estágio avançado de deterioração. Isso dificulta a extração do DNA. Nós não podemos abrir mão da técnica, nem em nome do tempo”, explica o policial civil do IML. É uma espera que machuca ainda mais quem já carrega tanta dor.

“No início a gente pedia para encontrar vivo, aí passava uma semana nada, passava 15 dias, você já sabia que a chance ia diminuindo muito mais, todo mundo esperava que ele estivesse na mata, depois pedia pra que pelo menos não tivesse sofrido, que tivesse sido rápido a ponto de ele não terem nem visto, sentido. Depois você espera que encontre pelo menos um pedacinho, e o pior, você pede para receber aquela ligação que é tão triste, que é a pior que alguém que ama pode receber, mas é a que todos nós temos esperado”, diz um dos que esperam por notícia dos 22 desaparecidos. G1