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A Bahia alcançou, no primeiro trimestre de 2021, o seu maior número de desempregados nos últimos nove anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desocupação no estado, de 21,3%, é a maior do Brasil, empatada com Pernambuco. Em dados absolutos, isso representa que 1,4 milhão de baianos estão sem emprego. De acordo com Urandi Paiva, coordenador de Estatística da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), não há perspectiva de melhora socioeconômica local sem o controle da pandemia de Covid-19.

“A situação na Bahia ainda segue dramática. Porque a economia ainda não reagiu neste primeiro trimestre do ano e o desemprego ainda assola a Bahia, que é hoje o estado campeão do desemprego. E as perspectivas não são boas, na medida que a vacinação não avança no estado e no Brasil. Como hoje a economia está totalmente subordinada à saúde, enquanto a população não for totalmente imunizada, nós ainda teremos um cenário prolongado de retração nos principais indicadores socioeconômicos”, avaliou Paiva.

O especialista aponta que a recuperação socioeconômica do estado e do país está nas mãos do governo federal, que precisaria ser ágil na compra dos imunizantes contra o novo coronavírus. Segundo ele, os investidores estão com receio de aportar grandes volumes de dinheiro em negócios, por conta da dificuldade que o Brasil apresenta em controlar a pandemia da Covid-19.

“A gente está na mão da habilidade do governo federal em trazer essas vacinas. Porque, quanto mais brasileiros forem vacinados e a gente atingir uma imunidade em torno de 70%, mais rápido a gente vai voltar à normalidade, mais rápido a economia voltará a reagir. Hoje as pessoas não estão querendo fazer nenhum investimento produtivo, porque estamos prestes a viver uma terceira onda”, previu Paiva. “Só a vacina pode trazer um estado de normalidade e uma perspectiva de melhora da economia. Enquanto não tem vacina, a gente tem uma perspectiva pessimista”, concluiu.

INSEGURANÇA ALIMENTAR

O rendimento médio dos trabalhadores no estado também apresentou queda no primeiro trimestre do ano. O valor que era de R$ 1.742 no início do ano passado e R$ 1.652 no fim de 2020 chegou a R$ 1.597 nos primeiros três meses de 2021. É a terceira menor renda média do Brasil, acima apenas do Maranhão (R$ 1.484) e do Piauí (R$ 1.569). Além disso, Urandi Paiva também aponta outro grande fenômeno que “joga contra as pessoas” no estado, provocando insegurança alimentar: a inflação.

“O preço dos alimentos não para de crescer. Saiu um dado hoje que o consumo de carne é o menor no Brasil desde 1996. Então as pessoas estão substituindo a proteína por outros alimentos e essa situação é grave. Isso é para aqueles que têm condição de substituir. É muito comum, nas grandes capitais, visualizar a volta da fome. Nos sinais de trânsito, está bem comum ver pessoas com placa na mão escrito ‘estou com fome’, pedindo ajuda”, relatou o coordenador do SEI.

A soma de rendimento de trabalhadores na Bahia também caiu, refletindo o aumento do desemprego e a queda da renda média. O acúmulo real de todos os trabalhos no estado caiu para R$ 7,885 bilhões, também o menor valor desde 2012, quando iniciou-se a série histórica Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua Trimestral, do IBGE.

AUXÍLIO EMERGENCIAL

A redução do auxílio emergencial pelo governo federal também abala a estrutura socioeconômica do estado. Mesmo sem um estudo de impacto da SEI, Urandi Paiva avalia que a queda de R$ 600 para R$ 150 no valor do programa deve provocar um aumento da pobreza e da extrema-pobreza na Bahia. Segundo ele, as verbas da União podem ter uma grande importância para a economia baiana.

“No ano passado, nós tivemos aqui na Bahia uma injeção de recursos na ordem de R$ 27 bilhões na economia. Só para ter uma dimensão do que foi essa injeção, é um montante de quase 9% do PIB baiano, o que equivale ao setor da agropecuária”, apontou o especialista.

“Em 2021, com o auxílio emergencial no valor de um quarto do valor do ano passado, nós da SEI ainda não conseguimos fazer um estudo de impacto, porque o Ministério da Cidadania não disponibilizou a população beneficiária. Mas tudo leva a crer que esses R$ 150 não vão fazer frente às necessidades da população baiana e brasileira. Então possa ser que, neste ano, entrem mais pessoas na pobreza e na extrema pobreza, porque o mercado de trabalho não está reagindo e a vacinação não está avançando”, finalizou. (Bahia Notícias)