Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O senador Otto Alencar (PSD) comentou o rompimento do vice-governador João Leão (PP) e do deputado estadual Marcelo Nilo (Republicanos) com o grupo político do governador Rui Costa (PT) na pré-campanha ao Governo do Estado. “Acho que, na política, podem acontecer esses desentendimentos. Não é novidade e já aconteceu em outros momentos. Nunca fomentei ou estimulei isso. Sempre defendi que a unidade deveria ser preservada. Mas, já que aconteceu, agora é cada um cuidar do seu trabalho e apresentar as suas razões do que planejam para o estado”, declarou, em entrevista à Tribuna. No papo, o parlamentar se diz otimista com o resultado da eleição de 2022. “A eleição começou muito cedo. Formamos uma chapa bem equilibrada, contemplando vários partidos. Estamos com sete partidos na aliança. Estamos bem unidos e com uma sustentação muito boa a nível de alianças”, avalia. O pessedista ainda faz uma avaliação sobre o panorama político nacional e se pronuncia sobre o polêmico projeto do ICMS dos combustíveis.

Tribuna – Qual é a sua visão sobre o projeto do Governo Federal a respeito do ICMS dos combustíveis? Surtirá efeito de baixar o preço dos combustíveis e da energia a médio e longo prazo?
Otto Alencar – A gente tinha aprovado no Senado um projeto bem mais eficiente do que seria esse, que seria o projeto de criar um fundo equalizador de preços no mercado interno. Aprovamos esse projeto em março, foi para a Câmara e o governo segurou. E aí nasceu esse projeto de redução do ICMS, que teve uma repercussão negativa porque os estados e municípios perdem arrecadação. Mas, na ciranda de aumentos que estavam acontecendo dos combustíveis foi uma solução que pode resultar na diminuição no preço do diesel e da gasolina. Mas, isso vai depender também da variação do preço do barril de petróleo, da Guerra na Ucrânia e da variação do dólar, porque o preço dos combustíveis no Brasil está dolarizado. São as chamadas PPIs, os Preços de Paridade Internacional. Por que isso? Porque o Brasil não tem capacidade de refinar todo o Petróleo que ele produz. O Brasil é autossuficiente na produção do óleo cru, mas não tem refinaria para refinar a gasolina e o diesel. Então, importamos e é estabelecido esse preço de paridade internacional. Pode ser que venha a reduzir o preço, mas vai depender dessas três variantes.

Tribuna – O que o senhor acha da ideia de revisar a Reforma Trabalhista? Inclusive, o ex-presidente Lula defende isso no plano de governo dele…
Otto Alencar – O presidente Lula falou isso no início, mas depois refluiu sobre revisão da Reforma Trabalhista, que tem pontos que são considerados contemporâneos e atualizados. Mas também têm pontos que prejudicam o trabalhador, sobretudo nesta questão do trabalho intermitente; na fragilização do acidente de trabalho, que ficou uma situação insegura para o trabalhador, ainda não identificando corretamente o que seria acidente ou não; e também essa questão de hora trabalhada. O presidente refluiu disso, inclusive. Pode ser que, com a avaliação da aplicação da reforma, se encontre alguns pontos que forem de encontro com a precarização de alguns itens que estão postos na lei.

Tribuna – A gente tem visto os casos de Covid aumentarem. Isso causa preocupação? Ou o senhor acredita que a gente não vai mais voltar a ter uma situação difícil e complicada como a gente teve antes?
Otto Alencar – O vírus é comunitário, está no nosso meio. Todo dia a gente identifica pessoas contaminadas e o número de óbitos teve uma curva ascendente nos últimos dias. Então, tem que se observar a evolução da doença. Estamos com uma população com um grau de imunidade por vacina muito bom. As manifestações dessa nova variante ômicron são menos letais do que a outra que causou tantos danos ao Brasil, que foi a variante Delta. A questão da vigilância tem que ser permanente. Se por um acaso houver um aumento na taxa de transmissão, aumento de óbitos e também de casos graves com internação hospitalar, alguma medida terá que ser tomada. Essa é uma virose como tantas outras viroses, que estão controladas, mas não estão erradicadas. O vírus continua no Brasil e em outras partes do mundo. E vamos ter que ter vigilância permanente nos indicadores da doença.

Tribuna – Como tem sido a recepção do pré-candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, na sua visão?
Otto Alencar – Muito boa. Jerônimo, nosso pré-candidato ao Governo, e Geraldo Júnior, nosso vice, têm requisitos necessários para disputar o Governo do Estado: história de vida pública, competência, experiência e preparo. E têm sido muito bom. Tenho acompanhado os Programas de Governo Participativo e são muito bons. A recepção é boa. A eleição, na verdade, é ainda a pré-campanha. A campanha começa para valer depois das convenções, quando você tem o horário eleitoral gratuito. Mas a expectativa é muito otimista. Eu já participei de outras campanhas majoritárias com esse perfil. Inclusive, em 2014, quando Rui também começou a campanha como um político novo, que não tinha o conhecimento. Mas, quando a população toma conhecimento da proposta de governo, que é um projeto de continuidade do Governo Rui Costa e alinhado com o do presidente Lula, a campanha sempre toma corpo. E a identidade do programa estadual sempre pega liga e corpo com o programa nacional do presidente Lula. Assim foi em 2006, com Wagner e Lula; em 2010, com Wagner e Dilma; 2014, Rui e Dilma; em 2018, Rui e Haddad. Tanto Rui, quanto Haddad, ganharam aqui em 2018 e tiveram votos quantitativos quase idênticos.

Tribuna – Por falar em Lula e considerando o cenário atual do presidente Jair Bolsonaro, o senhor acha que há a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno?
Otto Alencar – Existe a possibilidade sim, não tenho dúvida. Mas ainda temos que aguardar os fatos. O presidente Lula tem um voto que nós chamamos de cristalizado muito alto, em torno de 42 ou 44%. É o eleitor que vota sem oscilação para mudança. Então, isso é um índice muito alto. Permanecendo assim, ele pode até vencer em primeiro turno.

Tribuna – Qual é a meta do PSD para a eleição de deputados estaduais e federais neste ano na Bahia?
Otto Alencar – Nós temos duas chapas proporcionais bem fortes e bem competitivas. Mas eu não gosto de estabelecer um número para não ter que fazer uma avaliação precipitada. Mas as duas chapas devem ter um bom desempenho. Tribuna da Bahia