A terra tremeu como nunca em Amargosa, no final do mês passado. O terremoto de 4.2 graus na escala Richter colocou em evidência as atividades sísmicas que vêm se repetindo na região do Recôncavo Baiano e áreas vizinhas. A partir da análise dos registros da série histórica e do ambiente geológico, o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) divulgou nota técnica sobre o evento ocorrido no último dia 30 na região do Vale do Jequiriçá. O estudo foi realizado em conjunto com o Instituto de Geociências (Igeo/UFBA), Universidade Estadual de Feira De Santana (Uefs) e Sociedade Brasileira de Geologia (SBG).
Segundo informações divulgadas pelas entidades, em conjunto, a pesquisa investiga todos os registros disponíveis na Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), responsável pelo monitoramento e investigação deste tipo de fenômeno geológico no Brasil, e classifica o último terremoto registrado na região de Amargosa como o de maior magnitude já registrado na Bahia.
Os dados sísmicos históricos mostram ainda que essa atividade não constituem um evento isolado. Existem 373 registros de terremotos na Bahia, sendo o mais antigo deles, e do Brasil, registrado em Salvador, em 1724. Ao comparar registros de eventos sísmicos na região do estado, o estudo evidencia uma importante concentração de terremotos na Bacia do Recôncavo e áreas adjacentes.
Mesmo sem registro de tremores com magnitudes elevadas e associadas a danos graves, é possível notar que o Recôncavo é uma das regiões sismogênicas (propensa a ter terremotos) mais ativas do Brasil. Do total de registros na Bahia, apenas 8 superaram os 4 graus da escala Richter, contudo, nunca ultrapassando os 5 graus.
Já a região de Amargosa apresenta 33 registros de terremotos, tendo o primeiro ocorrido em 1899 com uma magnitude estimada em 3,5 graus. Os dados de diversos estudos geológicos ajudam a explicar o fenômeno que vêm ocorrendo na região de Amargosa. A resposta mais plausível encontra-se nas estruturas geológicas presentes na região.
“As rochas que formam a bacia do Recôncavo e do Camamu apresentam falhas que estão relacionadas à quebra do Supercontinente Pangea, que originou os continentes Sul-americano e Africano. As falhas geradas nessa separação, formam o ambiente tectônico que propicia os fenômenos sísmicos registrados na Bahia. O mapa com a sobreposição das falhas tectônicas e dos registros sísmicos mostram essa correspondência”, explica a nota.
O estudo demonstra ainda o aumento dos registros de eventos sísmicos na região nos últimos 20 anos. Esse crescimento pode estar relacionado a fatores naturais, associados com a dinâmica interna do planeta Terra, mesmo que a região esteja em uma situação de interior de placa tectônica, devido aos tremores recorrentes, com registros de terremotos desde o início do século XVII.
No entanto, pode ser explicado pelo aumento de investimento na Rede Sismográfica Brasileira permitindo uma melhor qualidade dos dados, assim como o aumento populacional nas cidades e zona rural podem ter contribuído para aumentar a percepção desses fenômenos.
Por fim, a nota técnica recomenda investigações e monitoramentos futuros para o entendimento das causas e efeitos dos terremotos, mas ressalta que a análise dos fatos históricos permite concluir que a região de Amargosa, tal como outras regiões do Estado da Bahia, possui uma característica sísmica ativa, embora as magnitudes dos fenômenos sejam em sua maior parte com magnitudes inferiores a 4 graus na escala Richter.
Sugere ainda que os dados geológicos observados na área, correlacionados aos dados levantados e interpretados na região da costa sul baiana, sugerem uma similaridade que deve ser compreendida mais profundamente através de estudos voltados ao reconhecimento de estruturas que indiquem movimentos tectônicos recentes na região e seus mecanismos motrizes de ativação.
Rede Sismográfica
O Serviço Geológico do Brasil é integrante da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), organização pública responsável por monitorar a sismicidade do território nacional através de suas quase 100 estações sismográficas espalhadas pelo país. As estações são operadas pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis/UnB), Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN) e Observatório Nacional (ON). (Correio da Bahia)