“Para nós que gostamos muito da liberdade, do ar livre, estar privado da liberdade realmente é uma tortura. É um sofrimento muito grande”. Assim o velejador baiano Rodrigo Dantas descreveu a sensação de ter ficado preso por 18 meses em Cabo Verde, na África, junto com outros dois brasileiros, por suspeita de tráfico internacional de drogas, após serem flagrados com uma tonelada de cocaína em um barco.

Ele, o também baiano Daniel Dantas e o gaúcho Daniel Guerra deixaram a cadeia na última quinta-feira (7), e a previsão é que eles cheguem ao Brasil ainda nesta semana. Ainda não há uma data certa, porque eles aguardam a liberação dos passaportes por parte da Polícia Judiciária de Cabo Verde.

Os três brasileiros vão responder ao processo em liberdade. Eles haviam sido detidos em 2017 e condenados a 10 anos de prisão em março de 2018, mas o julgamento foi anulado. Não há data prevista para novo julgamento, mas enquanto isso, eles vão poder ficar em casa.

“A cada barulho de cadeado, de chave, de portão abrindo, a gente pensava que era aquele momento que a gente estava saindo”, disse Daniel sobre a ansiedade em que estavam para poder serem soltos.

Os velejadores contam que, enquanto estavam presos, a visita dos familiares era um alento. “Cada momento que eles chegavam na visita era um pouquinho da casa, do gostinho de casa que eles traziam”, afirmou Daniel.

Os brasileiros alegam inocência e dizem que não sabiam que a droga estava no barco. Uma investigação feita pela Polícia Federal brasileira também aponta a inocência deles e diz que a droga teria sido colocada no barco por um inglês, dono da embarcação.

“A única coisa que chegou para a gente de informação era que ele [o inglês] era um ex-fuzileiro da Marinha da Inglaterra, e a nossa preocupação maior era a preparação do barco”, disse Daniel.

Os velejadores também disseram que não perceberam a carga extra de uma tonelada de cocaína, pelo tamanho do barco.

“Uma tonelada pode até parecer muito, mas num barco como esse, com uma construção antiga, e ele pesava 65 toneladas, uma diferença de uma tonelada num barco dessa proporção não faz nenhuma diferença. Era imperceptível”, disse Rodrigo.

Os velejadores foram autorizados a deixar Cabo Verde, mas deverão voltar para responder ao novo processo. Enquanto isso não acontece, planejam recomeçar a vida.

“Vamos continuar velejando sempre. Navegar é preciso. Ansiedade total para chegar em casa, rever minha família, dar um abraço forte”, diz Rodrigo.

Os familiares festejaram a soltura deles e não escondem a emoção de ter os velejadores de volta.

“Eu e o pai de Rodrigo abandonamos todo o nosso dia-a-dia para não abandonar o filho. A gente deixou de trabalhar, a gente deixou de viver uma vida normal em prol de conseguir comprovar a inocência deles”, afirma Aniete Dantas, mãe de Rodrigo.

“Agora, que ele possa dormir na cama dele, sentar na mesa com a gente e voltar a abrir a janela dele e ver o mar da Bahia. Voltar para o calor e o carinho da família e dos amigos”, completou. G1 Foto: Reprodução/TV Bahia