Pelo menos dois ministros deixaram a Esplanada nas últimas semanas com a justificativa de se dedicarem integralmente à reeleição como deputados federais. Ronaldo Nogueira (PTB) deixou o Ministério do Trabalho no último dia 27 e Marcos Pereira abandonou o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços na quarta-feira (03).
Em comum, nenhum dos dois ousou dar outra desculpa senão a retomada do mandato com o objetivo de manter a vaga na Câmara. Entretanto, outra leitura deve ser feita. Ambos sabiam que a eventual permanência no governo claudicante que se tornou a gestão de Michel Temer poderia prejudicar os planos futuros dos então deputados licenciados.
Com uma pauta impopular em tramitação na Câmara, defender publicamente o governo é uma tarefa dura demais para ser feita. E entre mergulhar no plenário sendo apenas mais um deputado e permanecer na linha de frente da Esplanada dos Ministérios, é fácil identificar qual a aposta com mais chance de sucesso. O prazo para desincompatibilização para candidatura é abril, porém Nogueira e Pereira prefiram não dar margem ao desgaste.
Logicamente essa não é a única razão para o pedido de exoneração, mas é difícil não fazer remissão ao fato de que Temer é tóxico eleitoralmente frente aos parcos 6% de aprovação, registrados recentemente nas pesquisas. No entanto, de uma coisa o presidente não pode reclamar: há sempre alguém disposto a se expor em troca de cargos e poder.
Que o diga a deputada Cristiane Brasil (PTB), indicada para assumir o lugar de Nogueira. Filha do delator do mensalão, Roberto Jefferson, Cristiane é parte da oligarquia política que não tem pudores em assumir posições constrangedoras.
Até porque, mesmo diante das derrapadas do pai, a deputada continuou com o cacife eleitoral e se manteve na Câmara dos Deputados. Talvez, por estar acostumada com o ambiente tóxico em torno do pai, a nova ministra esteja vacinada. Este texto integra o comentário desta terça-feira (2) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM e Clube FM.
