Após o coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), Humberto Barbosa, dizer que as autoridades demoraram para tomar atitudes com relação ao derramamento de petróleo bruto na costa brasileira e sugerir ser possível identificar o navio suspeito, o pesquisador foi contestado pelo Ibama. O órgão ligado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal) disse que “que nenhuma metodologia utilizada é eficaz para apontar com 100% de certeza” manchas de petróleo e os suspeitos.

Durante sua participação no programa “Isso é Bahia” desta essa terça-feira (19), Barbosa revelou que, para chegar no principal navio suspeito, foram selecionados 117 navios que transportavam óleo cru entre julho e agosto. “[O navio] fez uma manobra a serviço da Venezuela e de dois países da Ásia que preferimos não mencionar agora pelo fato do Lapis não fazer investigação criminal”, explicou o pesquisador em entrevista aos jornalistas Fernando Duarte e Jefferson Beltrão.

A investigação foi baseada nas duas primeiras manchas visualizadas na costa do nordestina. “Essas duas [manchas] foram significativas para nortear todo o direcionamento de inteligência de localização de navios, que é um sistema internacional que temos acesso, juntamente com as imagens de satélite, chegamos a uma conclusão geral”, detalhou.

“Além dessa quantidade que é absolutamente anormal, dos resíduos de poluição de óleo cru que esta chegando nas nossas praias, vemos que existe uma falta de controle nas nossas costas em termos de como esses navios transportadores estão fazendo procedimento. Digo isso, pois a mancha que encontramos no norte do Rio Grande do Norte, uma mancha extensa de aproximadamente de mais de 86 km por 1 km de largura, também complementa uma outra mancha mais recentemente descoberta pelo Lapis, no dia 19 de julho, na costa leste do estado da Paraíba onde é o epicentro das primeiras manchas”, disse o coordenador.

O centro de pesquisa contou que o navio suspeito está em curso novamente e que tem a capacidade de dois navios mercantes como o Bouboulina, de bandeira grega e citado por autoridades brasileiras como o principal suspeito pelo desastre ambiental. A embarcação suspeita vai passar em águas brasileiras como fez em duas missões anteriores. “A missão que culminou no derramamento de óleo, a mancha foi marcada no dia 24 de julho, próximo da costa do Rio Grande do Norte. No dia 28 o sinal dele foi detectado pelo sistema e buscamos todo o histórico. É complicado envolvendo uma diplomacia com outros países. É a triangulação complexa, não sabemos se ele leva óleo cru só desse país, e com países da Ásia”, disse.

O coordenador contou que tem feito contato com a Marinha, porém, não é oficial. Na próxima quinta-feira (21), Barbosa participa de uma audiência no Senado para esclarecer seus levantamentos e orientar a fase de investigação criminal.

Sobre as suspeitas levantadas pelo Ibama e a Marinha contra os cinco navios gregos, o estudo do laboratório diz trata-se de uma informação ultrapassada. “O que acontece é que existe uma descontinuidade entre as universidades, os grupos de pesquisa, com os orgão governamentais. São todos federais, mas existe uma separação. Os cinco navios não deveríamos nem entrar em contato, temos 117 navios na mão sem incomodar nenhum governo. Existe uma questão de inteligência e conhecimento. Chego a questionar a capacidade dos governantes em entenderem a complexidade, o sistema permite que vejamos a localização dos navios sem incomodar nenhum país”, comentou durante o programa.

“O governo deveria ter um pouco mais de cautela, ao apontar um indício de um país suspeito, que dos cinco navios o Bouboulina era o menos irregular. Essa é a situação, tem uma morosidade das autoridades e em 88 dias estamos discutindo cinco navios sendo que colocamos 117 com associação com as datas, e o governo buscando desculpa para dizer que o Bouboulina é o culpado”, retrucou o coordenador do laboratório da Ufal.

Em nota, o Ibama disse que “diante do exposto, não é possível afirmar que a mancha retilínea escura visualizada na imagem é oriunda de vazamento de óleo”. “Tampouco, é possível associá-la ao incidente que iniciou em 02/09/2019 com o aparecimento de manchas de óleo nas praias nordestinas, sobretudo considerando o intervalo temporal entre os eventos e a distância entre os locais. Destaca-se que não existem elementos científicos para afirmar que uma feição linear escura encontrada em imagens de radar trata-se de vazamento de óleo, sendo provável que seja fenômeno natural formado pelo rastro do navio”.

“Destaca-se que não ocorreram registros de presença de óleo nas praias das localidades próximas nos dias posteriores a 19/07, sendo que o primeiro registro da aparição de óleo no litoral nordestino ocorreu 45 dias depois, não havendo a possibilidade de existir conexão entre as duas ocorrências”, finalizou a manifestação do Ibama. Bahia Notícias