Foto: Max Haack/Secom

A Tribuna ouviu nos últimos meses os principais pré-candidatos ao governo da Bahia, e hoje publicamos a entrevista com o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil). A um mês de oficializar sua pré-candidatura, Neto apresenta as primeiras ideias que pretende implementar no estado, caso seja eleito no pleito do próximo ano. Neto evitou falar quais secretarias irá extinguir se chegar ao Palácio de Ondina, mas prometeu diminuir os gastos com a máquina pública.

“É óbvio que pretendo fazer um governo muito mais eficiente, de melhores resultados, um governo que gaste menos com a máquina pública, ter uma gestão mais enxuta para fazer sobrar dinheiro para gastar com o cidadão, com a melhora na qualidade dos serviços públicos, com a ampliação da capacidade de investimento do estado. Queremos um governo com produtividade, de resultados. Agora, é cedo para a gente já apontar especificamente qual secretaria extinguir ou não”, declarou.

Ainda na entrevista, ACM Neto fala sobre a rotina após deixar a prefeitura de Salvador, o cenário nacional e a fusão do DEM com o PSL para criar o União Brasil.

Tribuna – O senhor ainda acredita em uma terceira via, com consistência e capaz de chegar ao segundo turno, para disputa presidencial?  

ACM Neto – Eu acho que a eleição presidencial não está resolvida. Esse quadro de polarização do dia de hoje, do momento atual, que, na minha opinião, é muito mais o retrato do passado do que propriamente uma projeção do futuro. Muita coisa vai acontecer. Eu acho que há espaço para o surgimento de novos nomes, que tenham viabilidade e que possam se colocar como alternativas à Presidência da República.

Tribuna – Neste cenário, enfrentando quem? Bolsonaro ou Lula? 

ACM Neto – Não temos bola de cristal também. É difícil prever como estará a popularidade dos principais nomes hoje em disputa. Claro que as pesquisas neste momento mostram uma vantagem do ex-presidente Lula, mas tudo pode mudar. Um nome novo, que queira se colocar no processo, não tem que estar preocupado se vai tirar A ou B. Tem que estar preocupado em crescer, em ganhar o seu espaço, e se colocar como uma alternativa viável.

Tribuna – Com qual desses nomes o senhor se sentiria mais à vontade para sentar-se à mesa e discutir a disputa presidencial? João Doria (governador de São Paulo), Ciro Gomes (ex-ministro), Rodrigo Pacheco (presidente do Senado), Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul) ou Sergio Moro (ex-juiz da Lava Jato)?  

ACM Neto – Veja. A priori, eu não quero estabelecer vetos. A prioridade do União Brasil é ter candidato à Presidência da República, e é preciso incluir nesta lista os dois nomes que hoje estão filiados ao nosso partido: o ex-ministro (Luiz Henrique) Mandetta e (o apresentador de TV) Datena. Agora, eu acho que o quadro nacional só vai ficar um pouco mais claro a partir do mês de abril do próximo ano. Até lá que cada um trabalhe o seu espaço, apresente sua proposta, e que o tempo contribua para dar clareza a um eventual projeto de candidatura alternativa a esse quadro de polarização. Eu não gosto muito desse nome “terceira via”.

Tribuna – O senhor já declarou apoio a Eduardo leite nas prévias do PSDB, falou recentemente com Ciro Gomes. A chapa Ciro-Eduardo Leite seria a chapa dos sonhos? 

ACM Neto – Primeiro, eu não declarei apoio a Eduardo leite, eu manifestei a minha torcida por ele. Porque. evidentemente como eu não sou tucano, não voto nas prévias do PSDB e tenho que respeitar a autonomia dos tucanos. Mas não tenho dúvida que Eduardo leite é um nome muito melhor, seja porque eu vejo nele uma capacidade de agregação política bem mais ampla do que a do governador de São Paulo, seja porque eu acho que eles têm um perfil que pode empolgar e animar dentro desse tabuleiro sucessório. O segundo ponto: tenho uma relação com Ciro muito boa, de admiração, de construção histórica. Nesse bate-papo que tive com ele, fiz referência a 2002. Efetivamente naquele primeiro turno meu voto foi para ele. E dialogo consigo sobre as questões do Brasil. Como diálogo com várias lideranças políticas. Aliás, graças a Deus hoje eu posso dizer que poucas são as restrições de diálogo que tenho no Brasil.

Tribuna – Em 2018, o senhor optou por apoiar Bolsonaro. Caso o segundo turno se repita entre Bolsonaro e o PT, o senhor adotará uma postura de neutralidade ou isso não é possível? 

ACM Neto – EM 2018, o Democratas não teve posição política no segundo turno. Eu, pessoalmente, declarei meu voto em Bolsonaro. Mas lembrem, vocês acompanharam, não fiz campanha de rua, apenas declarei o meu voto e justifiquei naquele momento porque estava votando. Não quero pensar nesse cenário. ‘E se for Lula e Bolsonaro?’ Não tenho por que me preocupar com isso agora. Não suporto aplaudir engenheiro de obra pronta. Então, é fácil hoje voltar no passado e fazer julgamento, mas que aconteceram nas circunstâncias que aconteceram. Naquele momento, não fui só eu que votei em Bolsonaro. Foram milhões de brasileiros. Você pode me perguntar: ‘Você se arrependeu de votar em Lula em 2002?’ Votei em Lula no segundo turno. Então da mesma forma que eu não vou agora fazer juízo do meu voto no segundo turno em 2002 em Lula, eu não vou fazer juízo do meu voto no segundo turno em 2018 em Bolsonaro. Eles não foram minhas escolhas preferenciais.

Tribuna – Qual seria o perfil ideal para presidente da República? 

ACM Neto – Alguém com experiência política, com capacidade de transitar na política, de organizar a relação do governo com o Congresso. Observe uma coisa: antes de Bolsonaro, no modelo PT havia, o toma lá, dá cá, o loteamento de cargos. As indicações de cada partido, tinham lá seu ministério, suas estatais etc.  Hoje, existe um modelo que não é esse, mas que tem muitos problemas no modelo atual, que é essa história da execução do orçamento. Das tais medidas de relator. Isso é um absurdo, o que está acontecendo hoje. O governo não governa. Porque uma boa parte da execução orçamentária que devia estar ajustada a planos para o país, a projetos, está na mão do Congresso para ser lá objeto de acomodação política na Câmara e no Senado. Está errado. Então vai ser preciso no modelo ideal certo. Ter alguém que possa organizar a política. Que tenha liderança, capacidade de liderança política, que tenha um lado social.

Tribuna – Nesse assunto de perfil ideal, o que acha de Sergio Moro? 

ACM Neto – Nesse momento, não vou trabalhar com fulanizações. Não vou impor vetos a ninguém, nem a Moro. Não é o momento de impor vetos. Assim como todo mundo na vida pública, Moro cometeu erros e acertos. Acho que os acertos foram maiores do que os erros. A Lava Jato deu grandes contribuições ao país, apesar dos excessos e equívocos. Acho que no dia que ele deixou o Judiciário para ser ministro, ele cometeu um grande erro. Ele podia até ter deixado o Judiciário para ir para a vida política, mas que fosse disputar o voto. Mas isso não impede que Sergio Moro entre no jogo.

Tribuna – E sobre sua relação com Rodrigo Maia? Há chance de reconciliação? 

ACM Neto – Não sou refém de nenhum tipo de sentimento negativo. É uma relação de 20 anos, dos quais 9 meses extremamente turbulentos. Prefiro ficar com os 19 anos e 3 meses de relação de amizade do que com os 9 de brigas. Voltamos a nos falar por telefone. São assuntos que estão no passado. Existe ali uma janela de reconciliação então.

Tribuna – A gente observa que os partidos hoje nascem com uma proposta, mas acabam abrigando diversas tendências. No mesmo partido, tem apoiadores do governo, opositores e independentes. É uma tendência os partidos serem dessa forma? 

ACM Neto – Desde que o mundo é mundo, os partidos têm as suas divisões internas. Isso não é uma questão apenas da realidade política do Brasil. A gente olha no mundo inteiro que há essas divisões e diferenças. Se for ver nos Estados Unidos, dentro de cada um dos partidos, tem disputas muito acirradas. O próprio processo de prévias enaltece isso. É natural que os partidos não sejam de um pensamento único, e tenha, dentro de cada partido, corrente e linhas de atuação políticas bem distintas, em função do Brasil ser um país continental com realidades bem distintas, em cada região, e a política local acaba tendo influência muito grande no posicionamento nacional. O fato é que no Brasil tem uma quantidade muito grande de partidos. Eu acho que é um dos graves problemas das fragilidades do nosso sistema político e eleitoral. Sou plenamente favorável ao pluripartidarismo, mas não existem 40 diferentes correntes ideológicas ou de pensamento no país. Então, não se justifica esse número de partidos. Tem muito partido que existe para ser cartório, para ter um dono que continua montado em cima do fundo partidário, eleitoral, do tempo de televisão. Nós, com essa fusão, com a criação do União Brasil, queremos dar uma contribuição para a mudança dessa realidade. Estamos demonstrando que é possível caminhar para aglutinações, agregações. Que aconteçam outras.

Tribuna – O que o senhor pensa sobre a federação partidária? 

ACM Neto – Acho que pós 2022 esse vai ser um processo inevitável (de diminuição no número de partidos) porque, com o fim das coligações proporcionais e aplicação da cláusula de barreiras, vai haver uma redução do número de partidos. Já está vendo aí esse artifício da federação, que não é o melhor. Nada que possa jogar uma boia de salvação para evitar a diminuição do número de partidos, eu gosto. Que (a redução de partido) seja um processo contínuo. Quando as coligações não voltaram foi um grande avanço.

Tribuna – O PT da Bahia diz que, com a fusão para surgir o União Brasil, o senhor matou o DEM. Como o senhor avalia essa crítica? 

ACM Neto – Eu não vou ficar discutindo. Vindo do PT (essa crítica), me parece a reafirmação do nosso acerto. Então, se fosse uma coisa que não tivesse impacto e peso, não estaria incomodando e não geraria o comentário que gerou desse senhor (Eden Valadares, presidente do PT na Bahia). Realmente, só posso compreender como inveja e dor de cotovelo. Hoje, nós temos o maior partido do país. A disputa na Bahia se daria entre o PT e o Democratas. Individualmente, o PT era um partido que tinha um tamanho maior do que o Democratas. Agora, com a fusão, a disputa será PT e União, e nós somos maiores do que eles.

Tribuna – Falando da sucessão estadual, o senhor considera a sua eleição ganha pela fadiga do atual modelo que dirige o estado da Bahia? 

ACM Neto – Não, de maneira alguma. Não tem nada de ganho. Quem me conhece sabe que eu trabalho com muito pé no chão, com muita humildade. Vou continuar essa caminhada percorrendo a Bahia, conversando com os baianos, aprofundando o meu conhecimento da realidade de cada região do estado. Vamos fazer um processo amplo de discussão com as forças da sociedade, tendo o objetivo de construir um plano de governo transformador para o futuro da Bahia. Vamos fazer esse enfrentamento muito claro entre o projeto que dialoga com o futuro, que é o nosso caso, e o projeto que está preso ao passado, que é o caso do nosso principal adversário (o senador Jaques Wagner). Não tem nada de ganho. A gente sabe que é longa caminhada que tem pela frente, e somente em outubro do próximo ano é que vamos ter condições de ter a conclusão deste processo.

Tribuna – O que o senhor espera do PP e MDB? Se puder, o senhor espera ter os dois partidos do seu lado na campanha? 

ACM Neto – Dialogar, nós podemos dialogar com todo mundo, mas esse processo de conversa com os partidos só vai ter início depois do dia 2 de dezembro, quando pretendemos oficializar o lançamento da nossa pré-candidatura ao governo. O MDB é um partido que integra hoje a base do prefeito Bruno Reis e, portanto, o diálogo, eu penso que será natural. Eu não tenho ainda nenhum posicionamento do partido, porque eu não comecei a conversar, mas é natural que a gente sente para conversar. Em relação ao PP, é diferente. (O partido) integra a base do atual governador Rui Costa, apesar de ter uma relação muito boa com os principais líderes políticos do PP. Hoje, não temos uma agenda política em comum. Então, só o tempo dirá se haverá ou não espaço para um diálogo com o PP.

Tribuna – Se eleito, quais as secretarias o senhor pensa em extinguir?  

ACM Neto – É precoce falar sobre isso. Nós estamos em um processo de análise do estado, de avaliação das principais ações, projetos, planos para o futuro da Bahia. É óbvio que pretendo fazer um governo muito mais eficiente, de melhores resultados, um governo que gaste menos com a máquina pública, ter uma gestão mais enxuta para fazer sobrar dinheiro para gastar com o cidadão, com a melhora na qualidade dos serviços públicos, com a ampliação da capacidade de investimento do estado. Queremos um governo com produtividade, de resultados. Agora, é cedo para a gente já apontar especificamente qual secretaria extinguir ou não. É um trabalho que a gente vai fazer ao longo desses próximos meses. Os baianos sabem que eu chegarei em outubro do próximo ano, com certeza, com tudo desenhado e preparado para fazer um governo que seja transformador para o futuro do estado.

Tribuna – O senhor tem acompanhado as movimentações econômicas e financeiras do governo da Bahia, como pedidos de empréstimos? 

ACM Neto – Sim, nós temos uma equipe hoje (que acompanha os dados do governo). Claro, os dados que são públicos e disponíveis, porque não estamos lá dentro. Eu já tenho a experiência da prefeitura. Em 2012, quando eu fui candidato, nós tínhamos ali um quadro e um diagnóstico com base nos números que eram públicos. Depois que você senta (na cadeira do governo), é que sabe exatamente o outro lado da moeda. O lado de quem está por dentro, mas estamos fazendo o diagnóstico. Vamos chegar no próximo ano com todas as informações reunidas, compiladas e na cabeça.

Tribuna – Se a ponte Salvador-Itaparica estiver encaminhada, o senhor vai paralisar as obras para rever o projeto? Analisar para saber se este investimento se justifica? Qual o seu sentimento hoje? 

ACM Neto – O meu sentimento é que o PT, há 15 anos, trabalha com muita especulação, vendendo muitos sonhos, e pouca realização com relação à ponte. Eu não vou cometer o erro do PT. Não vou ficar propaganda, colocando outdoor e até agora, nada. Até hoje, o governo nem sequer apresentou o projeto à prefeitura de Salvador, e deu início à tentativa de licenças. Eu não posso levar a sério uma discussão que vem sendo conduzida de maneira midiática pelo governo há 15 anos. O que posso assegurar é que, se eu for o governador, vou tratar do assunto de maneira séria, técnica, e buscando analisar a viabilidade econômica dessa obra e tentar encontrar os melhores meios. Eu sou a favor da ponte. Acho que é importante para a Bahia, mas hoje não sentimos nenhuma segurança com a condução que foi dada pelo governo do Estado até aqui. Então, vai precisar, antes de tudo, trazer seriedade para esse debate, coisa que não houve nesses 15 anos.

Tribuna – O senhor acha que a Segurança Pública será o tema mais importante da eleição na Bahia?  

ACM Neto – Eu acho que não vai ser o tema mais importante. Nós vamos ter alguns temas que serão muito importantes. Dentre eles, a segurança pública.

Tribuna – Quais suas propostas para resolver o problema atual? 

ACM Neto – Nós estamos fazendo uma agenda de visitas técnicas a estados brasileiros, que têm boas ações, iniciativas e bons projetos, em áreas que estão se destacando. Um dos primeiros será Goiás, onde o governador Ronaldo Caiado tem tido um desempenho muito positivo na questão da Segurança Pública. Eu vou fazer uma imersão lá para acompanhar de perto. Não vou ficar só em governos do DEM, não. Não tem essa coisa de partido. A ideia é que na área de Educação, a gente possa ver Ceará e Pernambuco. Pernambuco, o sucesso no ensino médio. No Ceará, mais voltado para essa parceria do Estado com os Municípios em relação à alfabetização, a todo o trabalho de suporte técnico que vai da primeira infância até os anos iniciais do ensino fundamental. Então, a nossa ideia é fazer uma coisa bem ampliada. E vamos pegar os principais problemas. Não é só Segurança. Acho que a questão da segurança é emblemática porque 2017, a Bahia é campeã nacional de homicídios. Não é razoável que o Brasil esteja caindo o número de homicídios, e a Bahia esteja crescendo. Hoje, nós temos uma defasagem no número de policiais, nós temos uma desmotivação da tropa. A gente vai ter que trabalhar muito na motivação. Não é só uma questão remuneratória. É questão de valorização da categoria. Eu acho que, nesse período todo, faltou seja na gestão Wagner ou Rui, um envolvimento pessoal do governador, da liderança do governador. Isso faz toda diferença. A primeira ideia que eu tenho é uma mudança de postura da principal autoridade do estado, chamando para si a responsabilidade, mergulhando no problema e vivendo essa realidade.

Tribuna – Como avalia a situação hoje da Segurança Pública? 

ACM Neto – Acho que estamos pagando o preço, de certa forma, dessa ausência de liderança dos dois governadores, e da incompetência de secretários que passaram neste período. Não deram conta do recado. A gente vê – não tenho nada pessoal – um secretário de Segurança Pública (Ricardo Mandarino) hoje perdido. Essa é a realidade. Está perdido. A mudança de postura é a primeira coisa para criar um clima, um ambiente. Tem que aproveitar a inteligência da maneira certa. Não adianta dizer que vai fazer reconhecimento facial se o governador não está lá dentro, cobrando. Tem que ter presença, envolvimento, e buscar as melhores práticas. (Informações do Tribuna da Bahia)