Agência Brasil

O valor total dos empréstimos feitos pelos baianos aumentou 65% entre 2018 e 2022, segundo informações do Banco Central. Até fevereiro deste ano foram quase R$ 113 milhões emprestados para pessoas físicas e em muitos casos, o dinheiro é usado para pagar contas básicas como alimentação, energia elétrica e água.

No centro de Salvador, não é difícil encontrar opções de empréstimo. Os cartazes oferecem facilidades e, quando as proposta passam despercebida, tem sempre alguém para chamar a atenção. A vendedora Francisca Ferreira Santos terminou o mês com boletos acumulados, a solução temporária foi pegar R$ 500 emprestado.

“Eu tive que tomar um empréstimo no cartão para pagar outro cartão. Comprar comida, coisa para dentro de casa, quem paga aluguel como eu, se tiver alguma dívida para comprar um móvel, o salário não dá”, disse a vendedora.

Pegar um empréstimo tem sido uma alternativa cada vez mais comum para muitos baianos. “Todo mês eu entro no vermelho, aí esse mês eu peguei R$ 500 de empréstimo, dividido em cinco vezes. Foram dívidas de cartão, alimentação, essas coisas”, contou a vendedora Edna Lacerda.

“Eu peguei um empréstimo justamente para poder pagar as dívidas que estavam atrasadas. Paguei cartão, boleto, água, luz, que estavam todos atrasados”, afirmou a autônoma Aline Landim.

Segundo os dados mais recentes do Banco Central, em fevereiro desse ano, foram quase R$ 113 milhões usados em operações de crédito para pessoas físicas na Bahia. Em fevereiro de 2018, o montante era de R$ 68 milhões.

Eunice Novais dos Santos é professora aposentada. Para manter as contas em dia, fez vários empréstimos, mas a solução virou pesadelo. Ela não conseguiu pagar as parcelas e entrou em depressão.

“Comecei a entrar em uma angústia, porque eu tinha minha filha, eu pagava as despesas de faculdade, escola e eu não conseguia pagar nem mesmo a minha moradia. Resumindo, eu fui para casa do meu irmão, vendi meus móveis, fiquei em depressão de alto nível”, relatou.

“Tive consequências morais, físicas, psíquicas e ainda estou me recuperando”.
Para o economista Guilherme Dietze, a inflação e a alta dos juros explicam as dificuldades que famílias têm para manter em dia não só as parcelas do empréstimo como as contas básicas.

“Já que não consigo comprar com a minha renda ao ir no supermercado ou abastecer meu veículo, eu vou lá no cartão de crédito, eu vou no cheque especial, eu vou no crédito pessoal tentar alguma forma para poder complementar a minha renda. O problema é que com aumento de juros ou crédito, ficou mais caro e quem tem conta em atraso vai pagar mais juros e sobra menos para o consumo do dia a dia”.

E, para quem ainda não está com dividas em atraso, o economista Edval Landulfo orienta que é preciso cautela, para anotar gastos fixos e dívidas extras. “A população que mais vai sofrer com isso é aquela que recebe de um a três salários mínimos”.

“Mesmo parcelando, negociar essas parcelas como se fosse a vista, tentar retirar todas as outras possíveis, pagar somente o principal e dizer o seguinte: ‘eu pago hoje, devo a você, mas amanhã eu volto a negociar’. Não pode, nem nas parcelas da amortização, essas dívidas sobrecarregar o orçamento, tem que caber literalmente no orçamento doméstico”, apontou o economista. G1