Foto: Cynthia S. Goldsmith

A alta incidência da varíola dos macacos (monkeypox) entre “homens que fazem sexo com homens” (HSH) e o pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que gays e bissexuais reduzam contatos e parceiros sexuais criaram um problema que a ciência e as autoridades tentaram evitar. Pacientes com a doença apontam para uma onda de comentários preconceituosos e homofóbicos, desinformação, paranoia e medo, ao mesmo tempo em que outra parcela da comunidade LGBT+ se nega a encarar os fatores de risco e acredita ser alvo da mesma perseguição motivada pela epidemia do HIV/Aids na década de 1980.

Com 30 anos e vivendo com HIV, o influenciador e comunicólogo Lucas Raniel descobriu que estava com a varíola na segunda semana de julho, quando começou a ter febre e, em seguida, as feridas características da doença. Após o diagnóstico, ele começou a contar sua rotina e dividir detalhes do tratamento nas redes sociais, onde acumula mais de 70 mil seguidores.

“Desde que comecei a falar sobre, a quantidade de mensagens é insana”, diz Raniel. Ele conta que é procurado tanto por pessoas com medo de terem se infectado e mandando fotos de possíveis lesões, “quanto gays morrendo de medo e achando que vão se infectar e morrer amanhã”. O preconceito também dá as caras, com frases como “tá vendo, quem mandou ser gay e sair transando com todo mundo”.

Os primeiros casos notificados na Europa foram em festas e saunas voltadas ao público gay, no início de maio. As comemorações do Orgulho LGBTI+ no mês seguinte e o fato de que essa comunidade tem uma “rede interligada” de contatos fizeram com que o vírus se espalhasse rapidamente entre “homens que fazem sexo com homens”.

“A comunidade LGBT+ acaba negligenciando essas questões porque já somos inflamados sobre muitas coisas. Quando nos entendemos como gays, já pensamos se o HIV vem nesse combo ou não”, afirma Raniel, que vê parte da comunidade tentando se esquivar dos avisos e riscos.

DJ e modelo de 22 anos, Doug Mello diz que quando falou sobre seu diagnóstico nas redes sociais também recebeu mensagens de carinho, apoio e desejos de melhora, mas não só. “Fiquei abismado com a ignorância de muitos, que não procuram saber o que é e nem se informar. Teve uma parte que veio me atacar, dizendo que seria ‘a nova doença dos gays’. Fico apreensivo, porque podem achar que só pega por sexo”, conta.

Fonte: O Estado de São Paulo