No ano passado, uma usuária do transporte público de Salvador, de 27 anos, pegou o ônibus para ir ao trabalho. Era por volta de 7h quando um homem que estava sentado a frente lhe mostrou o celular. Na tela do aparelho, ela viu um vídeo onde ele aparecia se masturbando. “Na hora eu não acreditei, fiquei muito assustada e nervosa. Peguei meu celular e tentei gravar para ter provas e depois prestei um boletim de ocorrência”, contou a vítima, que não quis ser identificada.
Este é só mais um das centenas de registros de violências sofridas por mulheres em transportes públicos da capital baiana. Segundo uma pesquisa feita pelo Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber, 68% das moradoras de Salvador que foram entrevistadas já sofreram algum tipo de violência enquanto se deslocavam pela cidade.
A pesquisa foi divulgada nesta sexta-feira (13) e ouviu mais de 4 mil brasileiras, sendo 350 delas moradoras da capital baiana. A experiência dessa vítima está longe de ser individual. Pelo menos outras 73 das 350 ouvidas na pesquisa afirmaram que já foram vítimas do mesmo crime enquanto se deslocavam em Salvador. De acordo com a pesquisa, os maiores índices relatados pelas baianas são de olhares insistentes e “cantadas”, assaltos e importunações sexuais. Confira dados:
👉 41% já receberam olhares insistentes e cantadas;
👉 39% sofreram assaltos, furtos e/ou sequestros relâmpagos;
👉 21% já sofreram importunação sexual e/ou assédio;
👉 16% já sofreram discriminação por alguma característica, exceto raça;
👉 6% já sofreram agressões físicas;
👉 8% já sofreram racismo;
👉 6% já foram vítimas de estupros.
A maioria das situações relatadas pelas mulheres de Salvador aconteceu dentro dos ônibus – 72% das importunações sexuais e 50% dos olhares e/ou cantadas inconvenientes. Outros locais considerados perigosos são as ruas das cidades.
Para a soteropolitana que foi obrigada a ver o vídeo íntimo do agressor, o crime deixou algumas marcas. Após sofrer a importunação sexual, ela decidiu mudar o percurso que fazia para chegar no trabalho por medo de reencontrar o agressor. Depois de algumas semanas, ela mudou de emprego. “No primeiro dia fiquei bem abalada, chorei muito. Depois, fiquei em estado de alerta no transporte público”, contou.
O medo violência ao se deslocar pela cidade é palpável: 83% das mulheres entrevistadas se preocupam com o tema. O principal dos medos é sofrer um assalto ou sequestro relâmpago (71%), seguido do medo de ser vítima de estupro (70%). Ainda segundo a pesquisa, as mulheres indicaram que as principais causas desse sentimento de insegurança são a ausência de policiamento nas ruas e a falta de iluminação pública.