O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Adolfo Menezes (PSD), vê com bons olhos a candidatura do senador Jaques Wagner (PT) ao Governo da Bahia em 2022. “É um nome muito forte, principalmente com o presidente Lula disparado como candidato à Presidência da República”, declarou, em entrevista à Tribuna. O parlamentar pessedista afirma que a tríade PT, PSD e PP está unida para o próximo pleito. “A nossa coalizão com o PT e demais partidos da base aliada está firme. É uma seleção de notáveis, dos melhores jogadores da política na Bahia, onde só falta definir as posições de ponta-direita, centroavante e ponta-esquerda”, ressalta. Ainda no papo, Adolfo confirma que pedirá suplementação orçamentária ao Estado para fechar as contas do legislativo estadual. “Vai haver, sim, pedido de suplementação. Estou ainda apertando o torniquete das despesas, mas há uma defasagem histórica entre o que é destinado no Orçamento para os gastos do Legislativo”, lamenta. O parlamentar faz um ainda um panorama da cena política atual e faz projeções.

Tribuna – Antes de nos debruçarmos sobre os temas do Estado, que leitura o senhor faz do momento atual do Brasil?

Adolfo Menezes – Estamos vivendo um momento atípico, com um presidente que trabalha pouco, realiza quase nada e agita muito. Toda a crise política que estamos vivendo tem origem na Presidência da República. Tudo isso em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos e com a economia praticamente estagnada.

Tribuna –  Alguns fatos recentes têm atormentado muita gente no país. Na sua opinião, há espaço para um possível retrocesso democrático? 

Adolfo Menezes –   Não há espaço, porque aqui não é o Afeganistão. Quem vai se submeter mais a uma ditadura? Os jornais, a TV, os políticos, os negros, as mulheres, os transgêneros, os banqueiros, os empresários, os trabalhadores? O tensionamento que Bolsonaro faz com a ameaça ao retrocesso é para esconder a incompetência, para tentar desviar o foco das investigações sobre o governo, principalmente na área da Saúde, além do fato de que já não tem mais discurso para sustentar a própria sucessão dele.

Tribuna – O que o senhor pensa sobre a ideia do voto distrital?

Adolfo Menezes –   O voto distrital é a votação baseada na escolha majoritária do eleitor: ganha quem leva mais. O nosso sistema partidário já é muito ruim; com o voto distrital, ele praticamente acaba. Interessa a quem ter um sistema político sem partidos? Com certeza não é a democracia. O Legislativo deve representar todos os setores da sociedade: quanto mais diverso, mais democrático. A coordenação de campanhas também seria caótica e só há vantagens mesmo para candidatos ricos e muito conhecidos.

Tribuna – Que avaliação faz do combate à pandemia nas suas várias esferas?

Adolfo Menezes –   Não fosse a ação dos prefeitos e governadores, a situação seria ainda bem pior, porque o Governo Federal trabalhou o tempo todo pelo “quanto pior, melhor”, com um discurso negacionista e terraplanista, inclusive atrasando a compra de vacinas. Dos milhares de brasileiros que morreram – estamos próximos de chegar a 600 mil – muitos poderiam ter vivido se a vacina tivesse chegado mais cedo.

Tribuna – O senhor é tido como um parlamentar conciliador, mas firme nas decisões. No que gostaria que sua gestão mergulhasse para tornar a Bahia ainda melhor? 

Adolfo Menezes –  A Bahia é um Estado muito pobre, com grande parte do seu território no semiárido, mas temos um governador trabalhador, operante, que é Rui Costa. Em investimentos públicos só perdemos para São Paulo, que possui quase cinco vezes mais dinheiro. Para se ter uma ideia desta desproporcionalidade, o município de São Paulo tem um orçamento maior do que o da Bahia, cerca de R$ 15 bilhões a mais. Tem se investido muito em saúde pública, em estradas, em saneamento, mas as nossas necessidades são do tamanho de um país e os nossos recursos são menores do que um só município. Infelizmente, ainda precisamos fazer muita coisa.

Tribuna –  Em todo fundo de gaveta existem papéis adormecidos. O que o senhor encontrou e quer agilizar em termos de projetos? 

Adolfo Menezes –  Uma lei que garantisse que nenhum brasileiro, nenhum baiano, passasse fome. É absurdo que sejamos um país rico, o terceiro maior produtor de alimentos do mundo, atrás apenas da China e dos EUA, e que tenhamos pessoas que não têm o que comer. Não me conformarei nunca com isto.

Tribuna –  Como a Assembleia está contornando as dificuldades nesse ano de pandemia? 

Adolfo Menezes –   Não deixamos de trabalhar nem de votar nenhum projeto de lei ou outro tipo de propositura legislativa por causa da pandemia. Mantivemos nossas votações por via remota, retomando as sessões presenciais, no Plenário, agora, em agosto. Mas, existe diferença, sim, porque nas sessões presenciais o debate é mais intenso, acalorado. Gosto é do “olho no olho”, do contraditório ao vivo e em cores. Lives, paradoxalmente, são muito mortas.

Tribuna – A Assembleia vai pedir suplementação?

Adolfo Menezes – Vai haver, sim, pedido de suplementação. Estou ainda apertando o torniquete das despesas, mas há uma defasagem histórica entre o que é destinado no Orçamento para os gastos do Legislativo. Além disso, tem o custo anual do Plano de Cargos e Salários, que vem de gestões anteriores, e o crescimento vegetativo da folha de pessoal, não incluídos no Orçamento.

Tribuna –  Como seu grupo pretende chegar nas eleições de 2022? O senador Jaques Wagner é mesmo o candidato natural do grupo do qual o seu partido também faz parte? 

Adolfo Menezes –   Nossa coalizão trabalha com o candidato que o povo quer que seja. O governador Jaques Wagner fez oito anos de uma excelente gestão e está mais do que qualificado para ser o candidato, mais uma vez, ao governo da Bahia. Quando derrotou o ex-governador Paulo Souto, em 2006, era quase um desconhecido. De lá pra cá, foi reeleito governador, fez o seu sucessor e se elegeu, de forma retumbante, para o Senado. É um nome muito forte, principalmente com o presidente Lula disparado como candidato à Presidência da República.

Tribuna –  O governador Rui Costa deverá cumprir o mandato até o fim ou sair do mandato para disputar uma vaga ao Senado, como especulado? 

Adolfo Menezes –   É uma decisão muito personalíssima, mas o governador Rui Costa é daqueles que trabalham em grupo, que jogam para a equipe. Cheguei até a pedir emprego ao presidente Lula na recente visita que ele fez a Salvador, durante o evento na ALBA, dizendo que Rui Costa pode ser ministro de qualquer pasta, pela dedicação, talento e capacidade de fazer as coisas.

Tribuna –   O senador Otto Alencar vai lançar candidatura solo ao Governo do Estado? 

Adolfo Menezes –   Idem para o senador Otto Alencar, nosso líder político: é homem que trabalha em grupo e joga para a equipe. A nossa coalizão com o PT e demais partidos da base aliada está firme. É uma seleção de notáveis, dos melhores jogadores da política na Bahia, onde só falta definir as posições de ponta-direita, centroavante e ponta-esquerda.

Tribuna – Pela sua experiência, o rompimento de ACM Neto e João Roma é para valer ou é jogada política? 

Adolfo Menezes –   O ex-prefeito ACM Neto vai precisar de um bom palanque presidencial na Bahia. Acredito que será pela terceira via, com Ciro Gomes, porque não há espaço para ele no palanque de Bolsonaro ou de Lula. João Roma está na proa do barco bolsonarista na Bahia. Pode até não ser, mas, por enquanto, tem todos os indícios e predicados de que será candidato a governador. Isso, tem. Tribuna da Bahia