Ainda vai demorar meses ou até anos para as pessoas possam voltar a conhecer a cidade de luz e prazer, como Salvador é descrita na letra de “We Are Carnaval”, correndo atrás do trio. A canção de Nizan Guanaes já se tornou um hino da tradicional folia momesca baiana, que em 2021 foi cancelada por causa da pandemia da Covid-19.

O prefeito da capital da Bahia, ACM Neto (DEM), condicionou a realização da festa a autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e vacinação da população contra a Covid-19. O prefeito eleito de Salvador, Bruno Reis (DEM), que assume o cargo em 1º de janeiro, está de acordo e prometeu dialogar com gestores de outras capitais para alinhar um novo calendário para a festa. O Carnaval movimenta todos os anos centenas de milhares de reais na economia soteropolitana.

Por mais que a saudade doa, machuque o coração, e que as notícias mais recentes sobre as candidatas a vacina contra Covid-19 sejam animadoras, para que a sociedade volte a rotina pré-pandemia, com a realização de eventos que gerem aglomeração, por exemplo, o caminho ainda é longo. Na análise de infectologistas ouvidos pelos BN, ela levará meses ou até mesmo anos.

O infectologista Robson Reis explica que para que as pessoas deixem de usar máscaras, praticar o distanciamento social de um metro e voltem a participar de eventos com multidões, cerca de 70% da população precisaria estar imunizada contra a Covid-19. Só que esse percentual não está nos planos imediatos do Ministério da Saúde. O governo ressaltou que não há perspectiva de vacinar toda a população até o fim de 2021.

As primeiras fases da imunização visam apenas os grupos de risco para a infecção pelo novo coronavírus, aquelas pessoas que a doença mais evolui para a forma mais grave. A pasta sinalizou apenas algumas informações preliminares da estratégia de imunização. Na semana passada o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, afirmou que o plano só será finalizado quando houver vacina registrada na Anvisa. Mas o MS divulgou os primeiros pontos da estratégia na terça-feira (1º).

De acordo com o cronograma do governo federal, a imunização deve ser iniciada no mês de março e será realizada em quatro etapas. Na primeira o público-alvo são trabalhadores da saúde; os idosos com idade a partir dos 75 anos; as pessoas com 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência (como asilos e instituições psiquiátricas); e população indígena. Já na segunda fase serão vacinadas as pessoas de 60 a 74 anos. E na terceira fase os portadores de comorbidades. Na quarta fase o grupo vacinado será de professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade.

Vale lembrar que o Brasil tem candidatas que realizaram testes clínicos aqui, mas o país ainda não autorizou nenhum imunizante. A Anvisa está acompanhando e analisando dados dos estudos clínicos de algumas candidatas, mas nenhum parecer foi dado pela entidade. Enquanto isso, países da Europa, como o Reino Unido, e da Ásia, como a Rússia, largaram na frente, aprovaram e já estão colocando em prática o plano de imunização da população.

“Nós sabemos que todas as medidas que nós orientamos até então como distanciamento físico de um a dois metros, uso de máscaras, higienização, tudo isso é importante, mas de fato para colocar ponto final na pandemia somente através de vacina”, explicou o médico Robson Reis. O infectologista explica que estudos no mundo inteiro sugerem que a imunidade coletiva ideal é entre 60% e 70% da população.

Trazendo esse percentual para a realidade da Bahia, significa dizer que para que as pessoas aqui voltem às rotinas, como viajar sem restrições, deixem de usar máscaras e possam comparecer a eventos, cerca de 10,4 milhões de baianos teriam que estar imunizados. E como em cinco das seis vacinas que se mostram mais promissoras existe necessidade de aplicação de duas doses para garantia da eficácia da imunização, o estado precisaria de 20,8 milhões de vacinas, e também de seringas.

O cálculo tem como base a estimativa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de que a Bahia possui 14,9 milhões de habitantes. “Com esse percentual a gente vai conseguir o que chamamos de imunidade coletiva. Assim você interrompe aquela corrente de transmissão. Agora temos que colocar uma observação: isso a gente não vai conseguir em 2021, acredita-se que 70% da população imunizada a gente só venha a conseguir em 2022”, estima Reis. (Bahia Notícias)