Se o plano do governo era provocar uma redução do valor da gasolina ao eliminar o imposto de importação do etanol, medida anunciada pelo Ministério da Economia na segunda (21), o efeito prático deve ser zero, alertam especialistas consultados pelo blog.

A medida tenta aumentar a competição e forçar uma redução dos preços do etanol produzido no Brasil. O impacto na gasolina se daria porque o combustível, na sua mistura atual, tem 27% de álcool anidro.

Plínio Nastari, doutor em economia agrícola, membro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e CEO da Datagro, diz que a arbitragem de importação do preço do etanol internacional contra o brasileiro, mesmo com o imposto zerado, segue entre 8% e 10% a favor do produto brasileiro.

Isso significa que, mesmo sem a incidência do Imposto de Importação, o etanol de fora é mais caro que o produzido no Brasil. Os dois países que tem condições de exportar quantidades significativas de etanol são Brasil e EUA. O imposto de exportação sobre o etanol americano se dava em contrapartida pela taxação do açúcar brasileiro no mercado dos EUA.

Nastari afirma ainda que o preço do etanol brasileiro tendia a cair naturalmente porque a safra de cana começa em 10 dias. “É importante que a queda no preço seja transmitida ao consumidor, o que aconteceu apenas parcialmente no ano passado”, afirma ele.

Reflexo sobre a gasolina

O secretário executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, afirma que a gasolina pode ter uma redução de R$ 0,20 com a medida. Ele diz que há uma preocupação com o impacto da inflação nas famílias de mais baixa renda.

O governo aposta que há potencial impacto na redução da inflação ao zerar impostos de importação sobre outros alimentos, também incluídos na medida, como café, óleo de soja, macarrão, queijo e margarina.

“A tentativa de redução da gasolina pode ser frustrada”, afirma Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “Como todas as commodities, o milho está muito caro e, com isso, o etanol de milho a ser importado dos EUA não deve reduzir preços aqui”, diz.

“Além disso, vamos desincentivar investimentos no setor sucroalcooleiro no Brasil”, diz. O governo zerou os impostos sobre os produtos até 31 de dezembro deste ano, o que também foi considerada uma medida eleitoreira, já que Jair Bolsonaro vai concorrer à reeleição e o governo busca um discurso para rebater ataques sobre a alta dos combustíveis. Por Ana Flor/G1