© Marcelo Camargo/Agência Brasil

O consumo de álcool pode ser associado ao prazer ou momento de interação, mas sem moderação e cuidado o hábito pode se tornar um risco. A Bahia, em 2021, apresentou taxa de mortes atribuíveis ao álcool superior à média do país. Enquanto no estado são 35,3 óbitos por 100 mil habitantes, o índice nacional é de 32,4 mortes relacionadas ao álcool por 100 mil habitantes. O dado é da pesquisa Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2023 elaborada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode levar ao alcoolismo e outras doenças. Hoje, há 32 anos sem beber, Miguel Santana* lembra de seus piores momentos como alcoólatra. “Tinha delírios, às vezes tremia, ausência de apetite, falta de alimentação, problemas morais e outras coisas”, conta.

Foi através de uma conversa com sua família que Miguel percebeu que fazia um consumo excessivo de bebidas e entrou no Alcoólicos Anônimos. “Encontrei com pessoas que estavam se recuperando, me identifiquei com meu problema e com a vontade de parar e me recuperar. A partir daí deu certo”, afirma.

Foram 5.295 mortes atribuídas ao uso do álcool na Bahia, em 2021, ainda conforme os dados do Cisa. Os óbitos são em maioria de homens (81%), enquanto as mulheres são 19%. Com relação à faixa etária, a predominância é de público com mais de 55 anos (42%); 35-54 anos (32%); 18-34 anos (23%) e 0-17 (3%).

As principais causas de óbitos atribuíveis ao álcool na Bahia em 2021 são a violência interpessoal (21%); cirrose hepática (17%); acidente de trânsito (15%); transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool (13%).

“Além do fígado, o álcool pode causar pancreatite crônica, insuficiência cardíaca, alterações neurológicas, inclusive demência, pode diminuir o status do sistema imunológico, aumenta o risco de infecções e de câncer”, explica o professor de gastrohepatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná.

Vale considerar que a embriaguez pode levar a outros riscos. “O álcool acaba levando a uma carga de doença maior. O consumo leve de maconha tem seus problemas também, como qualquer droga, mas hoje o álcool é majoritário em relação a consequência e custos no sistema de saúde e também na segurança pública do país. São incongruências que nós devemos discutir e devemos entender melhor e também educar a população para que tenha um conhecimento mais amplo em relação aos tóxicos”, afirma.

Para a socióloga e coordenadora do Cisa, Mariana Thibes, há um desconhecimento sobre impactos do uso excessivo do álcool. “Ele é diferente de outras drogas. Ele tem um aspecto social muito forte. Os consumidores abusivos de álcool acreditam que bebem de forma social e acham que são moderados. Não sabem o que é o uso abusivo”, afirma.

É considerado consumo abusivo tomar 60g ou mais de álcool puro (cerca de 4 doses ou mais) em pelo menos uma ocasião no último mês, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Indicador equivalente é utilizado nas pesquisas do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que determina consumo abusivo 4 ou mais doses para mulheres e 5 ou mais doses para homens, em uma única ocasião, no último mês.

O consumo nocivo de álcool foi responsável por 2,6 milhões de mortes no mundo, em 2019, uma queda em comparação com 2010, quando foram registrados 3,3 milhões de óbitos. Ainda assim, significa que a cada 20 mortes, uma tem relação com o uso de álcool. Os dados são do relatório da OMS publicado no última dia 25. A Tarde