Políticos que fazem parte do arco de alianças do ex-prefeito ACM Neto relataram um nível crescente de insatisfações com a postura do principal líder da oposição na Bahia, a quem consideram cada vez mais inacessível aos integrantes do bloco ligado ao União Brasil. Ao longo dos últimos dias, a Metropolítica ouviu aliados de Neto nas mais diferentes esferas de poder e todos se queixaram abertamente de que não vem recebendo dele a menor dose de atenção. “Esse descontentamento hoje se tornou generalizado no nosso grupo. Entre deputados federais e estaduais, prefeitos do interior, vereadores, dirigentes de partidos e lideranças com base eleitoral expressiva em inúmeras cidades, é difícil encontrar quem não esteja contrariado”, confidenciou um dos parlamentares mais fiéis ao ex-prefeito.

Sinal fechado
Nos relatos feitos à coluna, uma reclamação apareceu em maior número: a de que ACM Neto não atende ligações, não responde mensagens enviadas em aplicativos e raramente recebe aliados fora do seu círculo restrito. “Nos oito anos em que foi prefeito de Salvador, ele se mostrava um pouco mais acessível e atento. Mas o comportamento começou a mudar antes da campanha para o governo do estado em 2022 e piorou bastante depois. Agora, beira a indiferença”, destacou outro político da linha de frente da oposição. “Mesmo sem mandato e apenas com o cargo de vice-presidente nacional do União Brasil, Neto age assim. Daí a gente se pergunta como seria se tivesse virado governador”, emendou.

Ponto de fuga
O tratamento dispensado atualmente pelo ex-prefeito aos correligionários e líderes de partidos da tropa oposicionista é visto como o motivo para a perda de quadros que sempre foram leais a ele. Caso do ex-deputado estadual e ex-secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pablo Barrozo, que deixou o PSDB e migrou para o Avante, legenda da base do PT. O rompimento de Barrozo é usado para exemplificar o efeito causado pela postura de Neto. Sobretudo, porque não se tratava só de um aliado de toda vida, mas de alguém que era considerado amigo pessoal.

Nada de vosso reino
As fontes consultadas também foram unânimes em apontar que o ex-prefeito só muda o padrão com assuntos do seu interesse. “Quando precisa, aí liga, fica receptivo, atende no gabinete. Mas não pode ser apenas de acordo com as próprias conveniências. Muitas vezes, o prefeito do interior, o deputado, enfim, aqueles que estão ao lado dele querem tão somente atenção de quem é o líder do grupo e sentir que fazem parte de um time. Sem isso, vem o vácuo. E sabemos que, na política, todo vácuo é ocupado”, ressaltou um cardeal influente da oposição.

Refúgio dos náufragos 
A avaliação entre os membros do bloco comandado por ACM Neto é de que as insatisfações internas ainda não provocaram perdas em massa de apoiadores por causa do prefeito Bruno Reis (União Brasil). Em contraste com o padrinho político, garantem, Bruno abre com frequência a agenda para dialogar com aliados, atender demandas e resolver atritos nas legendas que pertencem à base do Palácio Thomé de Souza.

Pesos e medidas
Diante das diferenças de comportamento, até adversários passaram a tratar o prefeito de forma mais afável do que fazem em relação ao antecessor. Foi o que ocorreu sexta-feira (17), durante a entrevista do senador Jaques Wagner e do governador Jerônimo Rodrigues ao radialista Mário Kertész, âncora da Rádio Metropole. Na ocasião, ambos parabenizaram Bruno Reis pelo aniversário de 47 anos. Antes, contudo, Wagner criticou duramente ACM Neto pela ameaça de punir deputados do União Brasil que votassem a favor do governo no projeto referente ao empréstimo de R$ 2 bilhões junto ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), revelada pela coluna na terça-feira (14).

Ponto de interrogação
Ainda sobre a entrevista Jaques Wagner e Jerônimo Rodrigues ao Jornal da Bahia no Ar, gerou curiosidade o convite feito pelo primeiro ao segundo ao vivo. Líder do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Senado, Wagner aproveitou a participação do governador no programa direto de Berlim e pediu que ele reservasse um espaço para recebê-lo no Palácio de Ondina domingo à tarde, quando Jerônimo já terá retornado da viagem à Europa. Disse que havia muita coisa para os dois conversarem. Só não contou o mais o importante: o assunto do papo.

Problema do vizinho 
Em meio à cobrança da imprensa pela abertura do processo de cassação contra o deputado estadual Binho Galinha (PRD), acusado de chefiar uma milícia envolvida em extorsão, agiotagem, receptação de carga roubada e lavagem de dinheiro para o jogo do bicho na região de Feira de Santana, parlamentares da oposição colocaram o abacaxi no colo da bancada governista. Argumentam que os rivais ocupam a presidência, a vice-presidência e a maioria dos assentos no Conselho de Ética na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Portanto, cabe a eles agendarem a primeira reunião do colegiado, definir quem será o relator do processo e dar andamento ao caso. Se não fizeram, acrescentam, é porque falta interesse ou estão de olho no apoio de Binho Galinha à candidatura do deputado federal Zé Neto (PT) a prefeito de Feira, cidade onde o investigado controla uma parcela expressiva de votos. Metro1