Foto: Paula Fróes/GOVBA

Ao ter chamado o ex-prefeito ACM Neto (DEM) de ‘cavalo paraguaio’, aquele que larga na frente mas perde, referindo-se à primeira sondagem sobre a sucessão estadual divulgada na semana passada pela Paraná Pesquisas, o senador Jaques Wagner (PT) traiu sua preocupação com a situação do seu provavelmente único concorrente ao governo baiano, em 2022. Na verdade, em todos os cenários pesquisados, o democrata aparece como franco favorito, posição que começara a se atribuir a Wagner desde que o STF reabilitou eleitoralmente o ex-presidente Lula, provável candidato do PT à sucessão presidencial, sem que nenhuma pesquisa tivesse ainda sido divulgada.

Com percentuais que variam de 49,3% a 56,5% das intenções de voto, este último resultado estimulado num cenário em que Wagner aparece como seu único adversário, Neto, segundo a Paraná, estaria eleito se o pleito, além de realizado hoje, diferentemente do que acontece, fosse descasado da sucessão presidencial, pré-condição normalmente para a vitória quando o candidato local vincula-se a uma candidatura nacional forte o suficiente para alavancar seu nome já no primeiro turno. Wagner, em contrapartida, registra de 21,4% a 25,8%, percentual do último cenário, em que seu único adversário apresentado ao eleitor é também o ex-prefeito de Salvador.

A sondagem, portanto, confirma que o desafio de Neto é, para manter a excelente condição em que se encontra hoje, a dois anos da eleição, achar um candidato presidencial promissor a que atar seu nome e o do ex-governador petista, buscar neutralizar a consistente distância em que se encontra para o democrata, atracando-se com o virtual presidenciável petista, estratégia de resto conhecida e utilizada à larga pelo PT baiano desde a primeira vitória de Wagner ao governo, em 2006, sucessão em que Lula se reelegeu com, então, 60,8% dos votos válidos, no auge do lulismo. Dois detalhes que também podem ter afligido o senador.

Segundo a Paraná, além da rejeição registrada para Wagner, da ordem de 44,7%, contra 20,8% de Neto (ambos percentuais relativos aos eleitores que não votariam neles ao governo de jeito nenhum), embora continue forte na Bahia, o ex-presidente Lula já não demonstra o mesmo vigor eleitoral que o tornava um quase-mito em 2006. Quando confrontado com Bolsonaro, por exemplo, bate 40,4% das intenções de voto à Presidência da República no Estado, contra 24,7% do capitão reformado, performando num percentual muito abaixo da média histórica com que os petistas se vangloriavam da sua condição de cabo eleitoral imbatível, da ordem de 70%.

Para desasossego de Wagner, um outro pequeno detalhe. Os números atribuídos ao hoje governador Rui Costa (PT) para o Senado, disputa para a qual tem o apoio de 45,5% dos eleitores, mostram que, apesar da manifesta antipatia da classe política por sua figura, ele é, a dia de hoje, favoritíssimo para a posição, acabando por desbancar o ex-governador como principal liderança petista na Bahia. Trata-se de condição que pode, no limite, a depender do que ocorra mais à frente, torná-lo figura imprescindível ao lado de Wagner, situação com que aliados, no entanto, seguramente não gostariam de contar numa chapa de apenas três nomes. Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.