O afoxé Filhos de Gandhy, que completa 70 anos neste Carnaval, desfilou pela avenida com uma reverência às mulheres. Alberto Pitta, presidente do Cortejo Afro, foi o responsável por assinar as novas fantasias que pela primeira vez levam dourado em sua composição, tradicionalmente branca e azul.

“O Gandhy que é um bloco másculo, macho e de certo modo machista – mesmo que não queira, são 10 mil homens, então um espaço com 10 mil homens não posso imaginar que não seja machista – esse mesmo Ganhdy saiu de Oxum, reverencia as mulheres através dos símbolos e signos de Oxum, que um orixá extremamente feminino. Essa é a ideia. Não é nem provar do próprio veneno, é entender o contexto”, explicou Pitta em entrevista ao Bahia Notícias.

“O Gandhy é todo branco com azul, o tapete da paz. Hoje esse tapete branco da paz saiu com o dourado de Oxum, que é justamente a reflexão dessas coisas que estão acontecendo. Mesmo sendo um afoxé tradicional, o Gandhy não pode nem deve se eximir sobre as coisas que estão acontecendo hoje. Pra mim, são decisões políticas, são questões sociais que a gente aborda. Em tempos de redes sociais, de internet, vale a pena falar sobre isso”, completou.

Inclusive, o próprio Cortejo Afro desfila este ano com um tema que tem relação com essa mesma luta contra o machismo e a intolerância religiosa.

“O tema ‘Porque Oxalá usa Ekodidé’ é uma lenda do Mestre Didi que, resumindo, é uma homenagem às mulheres. A lenda reza Oxalá voltando atrás, refletindo e compreendendo a importância da mulher. E essa mulher é Oxum. Essa é a história do Cortejo Afro. Porque em tempos de feminicídio, de violência contra a mulher, de intolerância religiosa e do racismo, a função dos blocos afro é trazer na avenida, mesmo no Carnaval, uma reflexão em relação a essas coisas”, aponta.

Sobre as críticas que a fantasia recebeu por ter amarelo, Pitta avaliou que são “sinais dos tempos”, que não têm relação apenas com a falta de informação sobre a razão da mudança.

“Também [falta de informação], mas por outro lado não há informação que chegue pra quem não quer sair daquele lugar. o Gandhy é um bloco tradicional e nós vamos respeitar isso, mas eles me convidaram pra fazer porque sabiam que eu ia fazer uma coisa que tivesse um viés ou um recorte nas questões atuais”, defende. Fotos: Max Haack / Ag. Haack / Bahia Notícias