Foto: João Paulo Barbosa

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2019, divulgado nesta terça-feira (15), mostra que o nível de qualidade do ensino médio brasileiro continua abaixo do esperado pelo Ministério da Educação (MEC). Embora tenha havido avanços em relação a 2017, o país não atinge a meta nessa etapa de ensino desde 2013.

O Ideb vai de 0 a 10 e leva em conta dois fatores: quantos alunos passam de ano e qual o desempenho deles em português e em matemática (entenda mais abaixo). Em 2019, a meta nacional a ser cumprida, somando escolas públicas e particulares, era 5 – mas o resultado ficou aquém do esperado. A média foi bem inferior a isso: 4,2.

Apesar de todos os estados, com exceção de Sergipe, terem aumentado o Ideb em relação à edição anterior, o resultado é insatisfatório. Uma “nota” de 4,2 não chega sequer ao patamar que era esperado para o país em 2015.

Quais estados cumpriram suas metas?

As escolas, municípios e estados têm também suas metas individuais, calculadas a partir de cada realidade socioeconômica. Elas podem ser maiores ou menores do que o esperado para a média do país (nota 5). No Amazonas, por exemplo, era 4; em Santa Catarina, 5,4. Em 2019, de todos os estados, apenas Goiás alcançou o índice proposto (4,8).

Ranking de estados

O Inep traça médias individuais para os estados, justamente porque são situações heterogêneas – há regiões com maior índice de pobreza, por exemplo, que terão obstáculos maiores para melhorar a qualidade da educação.

Por isso, ao analisar um ranking nacional do Ideb, é preciso ter em mente que cada estado tem desafios próprios. A listagem é apenas para fins didáticos – o critério ideal de comparação é analisar quanto a região evoluiu nos últimos anos, em seus próprios índices, além de verificar se atingiu a meta definida pelo Inep. O Espírito Santo, por exemplo, está em primeiro lugar, mas não cumpriu o índice esperado para 2019:

Ranking do Ideb de estados – Ensino médio

Estado Ideb 2019 Meta 2019
1- Espírito Santo 4,8 5,3
2- Goiás 4,8 4,8
3- Paraná 4,7 5,2
4- São Paulo 4,6 5,2
5- Pernambuco 4,5 4,6
6- Distrito Federal 4,5 5,2
7- Ceará 4,4 4,9
8- Rondônia 4,3 4,8
9- Minas Gerais 4,2 5,3
10- Santa Catarina 4,2 5,4
11- Rio Grande do Sul 4,2 5,3
12- Mato Grosso do Sul 4,2 4,8
13- Rio de Janeiro 4,1 4,9
14- Tocantins 4 4,7
15- Piauí 4 4,5
16- Paraíba 4 4,6
17- Acre 3,9 4,8
18- Roraima 3,9 5,1
19- Alagoas 3,9 4,6
20- Maranhão 3,8 4,3
21- Sergipe 3,7 4,9
22- Amazonas 3,6 4
23- Mato Grosso 3,6 4,7
24- Rio Grande do Norte 3,5 4,5
25- Bahia 3,5 4,5
26- Pará 3,4 4,4
27- Amapá 3,4 4,5

Redes estaduais

Analisando apenas as escolas estaduais, responsáveis por mais de 97% das matrículas da rede pública no ensino médio, o resultado de 2019 foi 0,4 ponto maior que de 2017. Apesar do avanço, a meta estipulada para esses colégios não foi cumprida.

O Ideb nacional das escolas estaduais brasileiras foi de 3,9 – sendo que o objetivo era atingir 4,6. Nas metas individuais, apenas os colégios das redes de Pernambuco e de Goiás ultrapassaram o índice proposto.

Desigualdade social

Os números evidenciam a desigualdade entre as regiões. Ao fazer o recorte por município, 39,4% das cidades do Norte e 21,1% das do Nordeste têm Ideb muito baixo (menor que 3,1) nas escolas estaduais. No Sudeste, apenas 2% dos municípios apresentam um índice tão preocupante. Porcentagem de municípios com Ideb 2019 muito baixo (escolas estaduais/ensino médio)

Regiões % de cidades com Ideb muito baixo (inferior a 3,1)
Norte 39,4
Nordeste 21,1
Sudeste 2,0
Sul 2,9
Centro-Oeste 11,4

O abismo é grande também na comparação entre escolas públicas e privadas. Na rede particular, responsável por 12,2% das matrículas de ensino médio do país, o Ideb foi de 6. Na rede estadual, um patamar muito mais baixo: 3,9.

Ideb 2019 no ensino médio – escolas públicas x privadas

Redes de ensino Ideb 2019
Escolas particulares 6,0
Escolas estaduais 3,9

Apesar do desempenho muito superior das escolas particulares, elas não atingiram suas metas – nem as nacionais, nem as estaduais.

Ideb 2019 das escolas particulares – ensino médio

Ideb 2019 Meta
6,0 6,8

Abaixo, entenda mais sobre o Ideb:

O que é Ideb?

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um indicador de qualidade do ensino fundamental e do ensino médio. Foi criado em 2005 pelo MEC, que o divulga, desde então, a cada dois anos.

Como o Ideb é calculado?

O Ideb é um índice de 0 a 10, calculado com base em dois fatores:

  • índices de aprovação/reprovação dos alunos e de abandono dos estudos, medidos no Censo Escolar;
  • notas em provas de português e de matemática no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).

Para ter um bom Ideb, é preciso ter baixas taxas de reprovação e de abandono de estudos, além de resultados satisfatórios no Saeb. Essa avaliação é aplicada a cada dois anos, em algumas etapas escolares: 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental, e 3º ano do ensino médio.

O que os alunos de ensino médio sabem de matemática e português?

Analisando as médias nacionais do Saeb (um dos componentes do Ideb), conclui-se que o Brasil está nos seguintes patamares de conhecimento:

Matemática: os alunos são capazes de resolver operações básicas, reconhecer proporções, associar uma tabela a um gráfico e fazer progressões aritméticas. Não conseguem, em geral, determinar probabilidade, calcular porcentagem, resolver uma expressão algébrica ou analisar formas geométricas.

Português: os estudantes têm habilidade para reconhecer uma opinião explícita em um artigo ou um tema de uma crônica, interpretar tirinhas e inferir o sentido de uma palavra em uma música. Apresentam dificuldade em identificar argumentos nos textos, reconhecer relações de causa e consequência, compreender ironia ou humor e detectar a informação principal em reportagens.

Como o Ideb é divulgado?

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulga o Ideb de cada escola, município e estado. Além de calcular as médias, o órgão detalha o desempenho das redes municipais, estaduais, públicas e privadas. Os índices são sempre calculados em três etapas da educação básica:

  • anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano);
  • anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano);
  • ensino médio.

Quais são as metas do Ideb e como são calculadas?

O MEC definiu que a meta para o país é atingir nota 6 no Ideb. Segundo a pasta, essa pontuação corresponde ao desempenho médio dos estudantes de países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) no Pisa (sigla em inglês para “Programa Internacional de Avaliação de Estudantes”).

O Pisa é uma prova de matemática, português e ciências, feita por alunos de 15 anos. O Brasil costuma estar entre os piores colocados no ranking mundial dessa avaliação. O prazo para atingir a meta de nível 6 no Ideb é diferente em cada etapa de ensino:

  • anos iniciais do ensino fundamental: 2021
  • anos finais do ensino fundamental: 2025
  • ensino médio: 2028

Para alcançar o Ideb desejado, o Inep traçou metas intermediárias. Em 2017, por exemplo, o objetivo era que a média nacional para alunos do 1º ao 5º ano fosse de 5,5. A nota exigida vai subindo a cada dois anos, até chegar a 6 em 2021.

Conforme já explicado nesta reportagem, as escolas, municípios e estados têm também suas metas individuais, calculadas a partir de cada realidade socioeconômica. Elas foram estabelecidas de modo que a média nacional atinja o patamar 6 nos prazos listados acima. Veja quais as metas intermediárias para o Brasil no Ideb 2019, divulgado nesta terça (15):

  • 1º ao 5º ano do ensino fundamental: 5,7
  • 6º ao 9º ano do ensino fundamental: 5,2
  • Ensino médio: 5,0

Anos iniciais do ensino fundamental

A primeira etapa avaliada pelo Ideb vai do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Considerando a média nacional, que inclui escolas públicas e privadas, o Brasil atingiu todas as metas intermediárias desde o início da série histórica.