Um estudo da Fundação Getúlio Vargas acompanhou 125 mil mulheres que tiraram licença maternidade em 2012. Dois anos depois, quase metade delas, 48%, estava fora do mercado de trabalho. Ana Carolina Komaba e Anna Pereira de Melo são parte dessa realidade. A repórter Sara Pavani registrou o esforço destas mulheres em encontrar uma alternativa para o desemprego.

Elas agora tentam novos caminhos para gerar renda. Há 8 meses, Ana Carolina teve o segundo bebê. Foi demitida pouco tempo depois de voltar ao trabalho. O mesmo aconteceu quando ela voltou da licença maternidade da primeira filha.

“As duas vezes que voltei de licença maternidade eu tive a demissão. Na primeira empresa eu trabalhava há cinco anos, e no primeiro dia que voltei de licença eu tive a minha demissão. Na segunda demissão foi um negócio muito louco. Eu cheguei para trabalhar, cheguei com um pedido na mesa do meu chefe e fui demitida. Eram 10h da manhã e eu jamais esperava isso”, revela Ana Carolina.

Com a dificuldade de se manter no mercado de trabalho, Ana Carolina montou uma loja online e passou a vender roupas na internet. “Na minha primeira semana eu vendi R$ 500. E com esse dinheiro vou fazendo meu estoque. Vou comprar mais roupas”, diz Ana Carolina sobre os planos com o novo negócio.

A vendedora Anna Pereira de Melo também não conseguiu se manter no emprego em uma loja de cosméticos. Ao retornar da licença, foi realocada para outra unidade, mais distante de sua casa. Quando pediu para retornar para a loja onde trabalhava anteriormente, foi colocada em outra função. Ela foi demitida dois meses depois de voltar da licença maternidade.

“No dia que eu voltei, uma menina que estava me substituindo, ela era temporária, ela tinha sido efetiva na minha vaga. A gerente da loja, que eu nem conhecia, era uma pessoa nova, me mandou uma mensagem falando que eu não poderia vender, que era para esperar. Ai chorei, desabei”, revela Ana.

Ana também fala que um dia recebeu uma mensagem de um supervisor falando que a situação dela, por ser mãe, era um problema para a loja. O fato de não ter disponibilidade de horário e compromissos com uma filho em casa era motivo para que nenhum gerente contasse com ela.

“Um dia um supervisor me mandou mensagem falando que eu era um problema, porque não tinha disponibilidade de horário e gerente nenhum poderia contar comigo porque era mãe. Me sentia muito mal. Me sentia como se tivesse ido para um lugar onde não era bem vinda”, desabafa.

Ficar sem renda não era uma opção. Anna utilizou da própria necessidade para encontrar uma nova aptidão, por meio da culinária. Isto porque a sua filha, Heloísa, de dez meses, nasceu com o diagnóstico de APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca). O menor contato com substâncias que possuem essa proteína provoca uma reação do sistema imunológico, o que pode gerar uma grave crise de alergia. Em meio a tantas restrições alimentares para ela e a bebê, Anna investiu em um curso de confeitaria especializada em receitas para pessoas alérgicas.

Anna adaptou os ingredientes e tornou algumas guloseimas acessíveis para mães e crianças com APLV. Com o apoio da rede Maternativa, que incentiva o empreendedorismo materno para as mães que foram excluídas do mercado de trabalho, colocou no ar o seu site de vendas. No último sábado, 17, a marca Lolodoçura foi lançada oficialmente durante um encontro de mulheres cujos filhos são alérgicos. A mãe de Anna, Cristiane, não conteve o orgulho da filha: “aspas da Cris”.

Desafio da amamentação

A Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês sejam alimentados com o leite materno exclusivamente até os seis meses. No Brasil, entretanto, apenas 38% das mulheres conseguem amamentar até este período, segundo a organização. A volta ao trabalho é um dos fatores que dificultam essa rotina. É o caso de Melissa Batista Marçal, que retornou à linha de montagem de uma fábrica de automóveis na Grande São Paulo após seis meses de licença.

A repórter Eliane Scardovelli acompanhou os preparativos para deixar o bebê e se acostumar ao novo ritmo de vida. Um dia antes de voltar ao trabalho, Melissa ensaiou com a mãe, Benedita Batista, como será a rotina. O primeiro dia de volta à fábrica, no entanto, não escapou à regra: foi marcado pela preocupação e saudade do filho. “Eu não vou ser mais a referência diária dele”, desabafa Melissa.

O desafio de Melissa é conseguir tirar o leite no trabalho. Embora a fábrica ofereça um ambiente próprio, o horário do expediente é apertado. Às 6h ela começa a trabalhar. É liberada para o almoço às 11h50. São 50 minutos para comer, tirar o leite – em uma sala localizada do outro lado do pátio, escovar os dentes e voltar para a linha de montagem.

“Essa é a criação de vínculo, a amamentação. E agora acho que vai ser mais importante ainda, por isso eu queria tanto manter, parece que é uma coisa que é minha e dele”, diz Melissa sobre a importância da amamentação.

Quando o relógio marca 15h, a mãe retorna ansiosa para casa. Com o filho nos braços, a primeira coisa que faz depois de apertá-lo contra si é dar de mamar. Em meio à rotina corrida, Melissa não conseguiu continuar tirando leite no trabalho. Ela amamenta o filho quando está em casa e complementa a alimentação dele com outras opções. G1