A desnutrição infantil no Brasil foi tema de um estudo perturbador da Pastoral da Criança. Quando a fome voltou a rondar, a primeira preocupação da dona de casa Claudineia do Rocio Padilha foi com os filhos. “Dificuldade um pouquinho tem. Eu vivo de reciclagem, para mim é mais difícil”, lamenta. Essa dificuldade de conseguir alimento farto chamou a atenção das voluntárias da Pastoral da Criança. Todos os meses, mães e filhos se reúnem na Pastoral para descobrir se as crianças estão crescendo saudáveis.

Um levantamento dos últimos três anos revela que a desnutrição cresceu entre as crianças de até seis anos, acompanhadas pelo projeto: saiu de 3% em 2020 para quase 5% no ano passado – incluindo casos de desnutrição graves. Outro indicativo da desnutrição infantil é a altura: 10% das crianças acompanhadas pela Pastoral estão mais baixas do que o esperado para idade. Por isso, medir essas crianças periodicamente é um jeito de monitorar a saúde delas.

“A qualidade da comida não está sendo adequada, por isso perde altura. E essa altura que a criança perde antes dos dois anos, dificilmente ela recupera, e isso causa uma série de problemas. Isso pode levar às doenças muito conhecidas na idade adulta: diabetes, hipertensão, a própria obesidade como efeito rebote da desnutrição infantil. Então, não é um problema só pra agora”, diz o médico e presidente da Pastoral da Criança, Nelson Arns. Esses resultados são acompanhados pelo Laboratório de Avaliação Nutricional de Populações, da USP, que aponta a queda no orçamento como um dos fatores principais da desnutrição.

“Característica do atendimento da Pastoral, junto com as diferenças que a gente observa entre as cidades que ela atende, sugere que esse é um dos fatores mais importantes na explicação dessa mudança, para a piora do estado nutricional das crianças”, explica o coordenador do local, Wolney Lisboa Condem.

Além do acompanhamento, a Pastoral orienta também as mães a como conseguir uma alimentação equilibrada para as crianças, garantindo nutrientes necessários para manter o peso e a altura ideais. A Claudineia tem aprendido a lição.

“Eles me ensinam bastante coisa que eu não sei. Porque sempre a gente tem que estar aprendendo, né? Eles mesmos não gostavam de fruta, odiavam fruta, aí eles me ensinaram a fazer uns pratos artesanais – a gente corta as frutas, faz uns desenhinhos – e eles comem que é uma beleza agora”, conta.