Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Parlamentares de diferentes partidos ouvidos pelo blog enxergam a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a Lava Jato como uma operação para, entre outros objetivos, “apagar” a imagem do ex-ministro Sergio Moro para a eleição de 2022. Durante pronunciamento no Palácio do Planalto, na quarta-feira (7) o presidente afirmou que “acabou” com a Lava Jato porque, no governo atual, não há corrupção a ser investigada.

Moro, ainda dentro do governo, virou alvo do presidente e de seus filhos, uma vez que a família Bolsonaro acreditava que o ex-ministro da Justiça estava de olho na eleição presidencial. Começou ali, então, um processo de fritura do então ministro — que repetia não ter pretensões eleitorais. Fora do cargo, Moro não convenceu o governo de que está fora da sucessão presidencial. Por isso, o ex-juiz e seu legado continuam na mira do Planalto.

Senadores e deputados ouvidos pelo blog acreditam que parte da estratégia do governo em “minar” a Lava Jato tenha como pano de fundo uma operação para esvaziar a candidatura de Moro. Nas palavras de um cacique do Congresso, o imaginário popular a respeito do ex-juiz tem relação com a “força da caneta” que ele tinha na Lava Jato: “Se Bolsonaro bate na tecla de que acabou a operação, tenta apagar o seu maior símbolo, trabalha para reforçar isso na cabeça da população”.

O sonho do Planalto é a reprodução de uma polarização entre PT e Bolsonaro — e Moro, se candidato, atrapalha os planos, pois racha a base bolsonarista. Essa é apenas uma das avaliações feitas sobre a frase de Bolsonaro ontem. Apesar da estratégia de Bolsonaro, analistas acreditam que a fala do presidente pode ter efeito colateral reverso. Ao invés de “apagar” o ex-juiz, acabe oferecendo uma bandeira para Moro.

Como caciques do Centrão gostam de repetir, Bolsonaro pode deixar como legado o “desmonte de operações” que prejudicam políticos, uma vez que investigadores cometeriam “excessos”. Até ministros da ala militar do governo, sempre defensores da Lava Jato, agora já passaram a dizer que reconhecem o legado da operação — mas que houve, sim, excessos.

Ou seja: o governo que fez campanha com um candidato que tentou se identificar com o combate à corrupção e com a defesa total da Lava Jato, adota, agora, um discurso de questionamentos a respeito de seus métodos — na mesma linha do que fizeram a oposição e políticos tradicionais quando Lula passou a ser alvo da operação.

Para investigadores ouvidos pelo blog, há uma tentativa de nomear e indicar aliados e personagens alinhados ao governo Bolsonaro para postos-chave com o objetivo de controlar apurações que possam prejudicar familiares e amigos do presidente — na linha do que Bolsonaro, segundo acusou Moro, reclamou na reunião ministerial do dia 22 de abril.

Nas palavras de um ex-investigador da Lava Jato ouvido pelo blog, está em curso uma nova bandeira de expoentes da classe política nos bastidores: “Sem investigação, não há corrupção”. A mudança no comportamento do presidente no discurso de apoio à Lava Jato e na aproximação com o Centrão — que desagrada à sua base ideológica — coincide com o avanço de investigações no STF que podem atingir familiares do presidente. Ou seja: foi um movimento de busca de apoio em troca de sobrevivência política.

Um líder do MDB, que acompanha e participa da cena política há décadas, explica por que, para ele, Bolsonaro recorreu à velha política no auge da crise do governo: “Nós, do Centrão, podemos até estar no Titanic que vai afundar. Mas a gente sabe nadar”. Por Andréia Sadi/G1