Dez trabalhadores de Lauro de Freitas encontrados em situação de trabalho semelhante à escravidão, em Bento Gonçalves (RS), vão voltar a ter fonte de renda fixa a partir desta terça-feira (7). Isso porque, em parceria com o Grupo Carrefour Brasil e o Parque Shopping Bahia, a Prefeitura Municipal conseguiu a reinserção dos homens, com idade entre 20 e 55 anos, no mercado de trabalho com carteira assinada.

A partir desta terça-feira, os dez trabalhadores resgatados já começam a passar pelo processo de contratação das empresas. Desde que voltaram a Lauro de Freitas, eles já estavam sendo auxiliados pela gestão municipal, que disponibilizou bolsa aluguel aos que necessitam de moradia, acompanhamento psicológico na rede municipal de Saúde, além de tratamentos odontológicos e realização de consultas e exames.

De acordo com Uilson de Souza, Secretário de Trabalho, Esporte e Lazer do município de Lauro de Freitas, a iniciativa da Prefeitura surgiu com o intuito de proteger os trabalhadores. “Nós buscamos criar uma rede de proteção às pessoas que foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão. Já fizemos uma série de atendimentos, desde regularização de documentação a atendimentos médicos. Na sexta-feira (3), decidimos focar nessa questão da intermediação de vagas de emprego no município e resultou nessa parceria com o Grupo Carrefour e o Parque Shopping”, pontuou.

O secretário ainda adiantou que a ação do Grupo Carrefour Brasil não será limitada ao município de Lauro de Freitas e que nas cidades em que houver trabalhadores resgatados e empresas do Grupo, a Carrefour pretende empregar e atender essas pessoas.

Segundo a empresa, no momento os trabalhadores têm ofertas de emprego para atuação nas lojas do Grupo em Lauro de Freitas, entre elas os da bandeira Atacadão, com dois Atakarejos na cidade. O próximo passo na cidade será indicar a melhor atuação dos trabalhadores dentro do Grupo, que já identificou que alguns têm experiência em supermercados.

O Grupo ressaltou ainda que é o maior empregador privado do Brasil, com cerca de 150 mil profissionais, após comprar o Grupo Big, e tem se colocado com a missão de “promover a inclusão social e econômica por meio de geração de empregos”.

Para a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, garantir empregos para outros trabalhadores que não residam no município também é uma preocupação. Ela chegou afirmar, em coletiva realizada nesta segunda-feira (6), que mantém diálogo com as empresas, para ampliarem vagas a outros trabalhadores resgatados da Bahia.

“Pedimos ao Governo do Estado para estreitar parcerias com essas empresas que estão se colocando à disposição, com sensibilidade, para reinserir os trabalhadores no mercado de trabalho”, disse.

Entre os 194 resgatados que optaram por retornar para a Bahia, Rodrigo* é um dos trabalhadores que ainda não conseguiu emprego e segue amargando o sabor da injustiça sofrida. A esposa, Scheila Dias, conta que o marido está há dias em estado de nervos pelo excesso de dívidas.

“Estamos sem pagar dois meses de aluguel e o dono da casa já veio pedir o imóvel. Ainda tem água e luz, e estamos sem alimento. Vieram cobrar a cesta básica que pedimos quando ele foi viajar para lá [Bento Gonçalves], e ele achou que ia trabalhar e enviar o dinheiro para pagar. Agora não temos de onde tirar e temos até o dia 10 de março para sair daqui”, desabafou.

Além das contas para pagar, Rodrigo e outros trabalhadores que estão em Salvador sofrem com medo de não receber indenização. “A Justiça do Trabalho até hoje não resolveu nada. Teve uma primeira reunião e o pessoal de Bento Gonçalves não aceitou o acordo, disse que eles não prestaram serviço. [Mas] eles têm carteira assinada, tem prova. E ainda assim, negaram que eles trabalharam e disseram que não iam pagar indenização nenhuma”, conta Scheila, indignada com a situação.

A próxima audiência marcada para determinar o pagamento da indenização está prevista para a próxima quinta-feira (9). Até lá, Scheila pede ajuda para conseguir se alimentar através do pix: 71 98519-7978 *Rodrigo é um nome fictício. O trabalhador preferiu manter sua identidade anônima. Correio da Bahia