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Se você pensava que, por causa da pegação do Carnaval, era em fevereiro que mais baianas engravidavam, se enganou. É em agosto. De acordo com um levantamento de registros de nascimento da Associação dos Registradores Civis das Pessoas Naturais do Estado da Bahia (Arpen BA), nos últimos cinco anos (2018 a 2022), a maioria dos nascimentos aconteceu em maio, nove meses após agosto. O mês foi responsável por 88.590 novos conterrâneos. Em segundo lugar, está março com 87.908 nascimentos. E o pódio se encerra com abril, com 84.397. Foi em maio de 2018, por sinal, o maior número de nascimentos registrado em um único mês neste período, com 19.172.

O fato curioso não tem uma explicação científica, no entanto, hipóteses circulam na comunidade médica: relação do frio com o aumento da frequência de relações sexuais e a abstinência por motivos religiosos, realizada por algumas pessoas no período da quaresma, que começa após o Carnaval. É o que aponta a médica Sofia Andrade, especialista em Reprodução Humana e uma das diretoras do Centro de Medicina Reprodutiva, Cenafert. “Acredita-se que, no inverno, a frequência de relação sexual pode aumentar e, dessa forma, viabilizar mais as gestações”, explicou a médica Sofia Andrade.

A hipótese envolvendo a temperatura também foi citada pela arquiteta Valci Souza, 33 anos, mãe de Valentina Menezes, que nasceu em maio de 2019. “As pessoas tendem a ficar próximas nesse período”, explicou. Na família, a pequena taurina divide o mês de aniversário com um primo de 7 anos.

Para Ingrid Albuquerque, 26, a gravidez do primeiro e único filho, Yan Orum, também não estava nos planos da família. Antes de confirmar oficialmente a gestação, por meio do exame de sangue, a telefonista sonhou que realizava um teste de farmácia e recebia o resultado positivo. No entanto, apesar do misterioso aviso prévio, não absorveu a informação do sonho. “Tem aquela coisa de que quando sonhamos com a gente, sempre acontece com os outros, deixei para lá”, relata Ingrid.

A confirmação, de fato, aconteceu em setembro de 2022, quinze dias após a morte do cunhado, de apenas 19 anos, vítima de uma infarto fulminante. “Eu descobri em um momento muito delicado. O irmão do meu então namorado tinha falecido, um menino jovem, gente boa demais. A família estava arrasada”, contou Ingrid, que, em homenagem, batizou o filho com o nome do cunhado.

Por pouco Yan não nasceu no mesmo dia em que a mãe faz aniversário, 31 de maio. Um tanto ansioso, o bebê chegou ao mundo oito dias antes. Também geminiana e apegada às características astrológicas determinadas pela pseudociência, a telefonista acredita que o filho pode ter traços semelhantes aos da personalidade dela, porém, com um aspecto paterno especulado desde a barriga: a artimanha da pirraça, característica do pai sagitariano.

Diferente de Valci e Ingrid, Juceli Paixão, 29, planejou a gravidez, mas não imaginava que o filho seria um taurino e dividira o mês de aniversário com o tio. As tentativas de gestar o primeiro filho de Nanny, como é conhecida, começaram em abril de 2017. Cinco meses depois, o exame de sangue confirmou a tão sonhada chegada de uma criança. Hoje com cinco anos, Augusto dos Santos exala características de um verdadeiro taurino – para aqueles que acreditam.

“É ciumento, amoroso e dedicado. Esses são uns dos traços que mais se destacam”, diz a mãe, que ficou surpresa ao descobrir que o número de nascimentos na Bahia costuma ser maior em maio. Acreditava, como o senso comum, que o Carnaval influenciava a chegada de novas crianças em novembro, de forma potencializada.

Assim como os dados da Arpen, um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprova a liderança de maio no ranking de meses que registraram mais nascimentos na Bahia. Os números da pesquisa ainda mostram os dados de 2017, ano em que o líder registrou 18.915 nascimentos. A Supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, afirmou que não há uma explicação, por parte da organização, sobre a sazonalidade de nascimentos no estado.

Perda da liderança

A hegemonia de maio no número de nascimentos de novos baianos chegou ao fim neste ano. Conforme os dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), atualizados no último dia 26, março ocupa a primeira posição, com 15.521 registros de nascimentos, enquanto maio aparece na vice-liderança, com 14.880.

A médica Sofia Andrade analisou esse movimento como resultado da flexibilização de medidas sanitárias contra a Covid-19, com influência do retorno das festividades juninas e do período de férias. “Ainda é uma hipótese. Talvez, as pacientes que se privaram de tentar gestar no período da pandemia aproveitaram para tentar”, explicou.

Esperado pelo senso comum como o mês responsável por maiores números de nascimentos na Bahia, por causa da folia momesca, novembro está longe de entrar na briga pela liderança. Em 2021, o mês era o último da lista divulgada pela Sesab, com 14.282, 2.936 a menos que maio, o líder. No ano passado, saltou para décima posição, com 13.459.

“Nada vai ter comprovação científica. Mas, entendemos que existe uma enorme campanha de utilização de métodos contraceptivos no Carnaval, que não existe tanto nos outros meses. Talvez seja fruto dessa campanha”, pontuou Sofia Andrade. A reportagem procurou especialistas da Arpen, entrou em contato o Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (IBIO/UFBA) e com a Maternidade Climério de Oliveira (MCO/Ufba), para obter mais informações sobre os dados, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. Correio da Bahia