No pedido de prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz e da mulher dele Márcia Oliveira de Aguiar, o Ministério Público do Rio de Janeiro revelou a atuação de um outro advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos). De acordo com o MP, Luiz Gustavo Botto Maia praticou crime de obstrução de Justiça. A investigação apurou que além de manipular provas, Botto teria orientado testemunhas para que faltassem aos depoimentos marcados pelo MP.
Gustavo Botto é advogado de causas eleitorais e atuou no registro da candidatura de Flávio Bolsonaro ao Senado, e no processo em que o senador se desfiliou do PSL. No entanto, as investigações relatam a atuação de Botto em momentos cruciais do esquema das rachadinhas, o que leva os promotores a dizerem que o advogado extrapolou todos os limites do exercício da advocacia e passou a atuar de forma criminosa.
Encontro Adriano da Nóbrega
O Ministério Público diz que ele foi um dos articuladores do encontro clandestino entre as famílias de Fabrício Queiroz e do miliciano Adriano da Nóbrega, morto no interior da Bahia em fevereiro deste ano.
Uma foto mostra Botto ao lado da mãe do ex-policial do Bope, Raimunda Veras Magalhães, e de Márcia Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz. Segundo a investigação, o objetivo do encontro era mandar um recado para Adriano que estava foragido. O fato aconteceu dois meses antes dele ser morto.
Ainda segundo o MP, Botto teria atuado também na ocultação de provas do esquema de rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio ( Alerj).
Depois das primeiras denúncias de que funcionários fantasmas devolviam parte dos salários ao gabinete de Flávio Bolsonaro, os promotores dizem que Gustavo Botto orientou uma das assessoras em uma fraude.
O Jornal Nacional exibiu uma mensagem, obtida pelo MP em um celular apreendido. Nela, Botto orienta a funcionária Luisa Paes a assinar, em 2019, livros de ponto de 2017.
Advogado: Boa tarde, Luiza
Advogado: Tudo bem?
Advogado: Deixa só eu te falar.
Avogado: Esse print aí que eu te mandei é de um cara que tá tentando falar contigo lá da ALERJ.
Advogado: Esse é, pô, tranquilo.
Advogado: Parece que tem alguma coisa tua lá que tu tem que assinar, alguma coisa lá da ALERJ que tá com uma pendência lá de 2017, que eles estão vendo agora e pediram seu telefone.
Advogado: Eu acabei, dei agora há pouco e acabei esquecendo de te avisa
O pai da funcionária fica receoso e ainda confirma a orientação do advogado com Fabrício Queiroz.
Pai: A luiza tem que ir lá na alerj assinar uns pontos, é seguro?
Botto: muito seguro
Em outra mensagem, o pai da assessora comenta com ela a conduta do advogado.
Pai: isso deve ter sido orientação daquele maluco lá, né? Que nós encontramos com ele lá. Porque aquilo é maluco de pedra.
Folha de pagamento e busca e apreensão
O advogado Gustavo Botto está na folha de pagamento da Assembleia Legislativa com um salário líquido de R$ 8.831,00. Na última quinta-feira, o endereço do advogado foi um dos alvos de busca e apreensão na operação que prendeu Fabrício Queiroz.
Prisão domiciliar negada
A Justiça do Rio negou o pedido da defesa de Fabrício Queiroz para converter a prisão preventiva em domiciliar. Queiroz é suspeito de participar de um esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Queiroz é o único ocupante de uma cela de 6 metros quadrados, que tem cama, pia, vaso e chuveiro em Bangu, Zona Oeste do Rio.
Nas duas primeiras semanas, ele ficará sozinho na cela, cumprindo a quarentena do coronavírus. O ex-assessor foi vacinado contra a gripe e o sarampo, seguindo as regras destinadas a todos os predos.
Segundo quem teve contato com Queiroz já dentro do sistema prisional, contaram que ele chegou nervoso, constrangido e até chorando. A defesa do ex-assessor pediu que ele fosse transferido para a prisão domiciliar, mas a desembargadora Suimei Cavalieri, da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, negou. G1