Como a mancha de óleo já percorreu mais de 2500 quilômetros desde o Maranhão, o temor de que ela toque os recifes do Parque Nacional Marinho de Abrolhos é cada vez mais tangível. “Tudo o que vimos até agora é muito triste e preocupante. Mas nada poderia ser pior do que isso chegar lá”. O “isso”, no caso, são as manchas de óleo que há quase dois meses invadem o litoral nordestino sem qualquer tipo de contenção efetiva.

“Lá” é a região de Abrolhos, no extremo sul da Bahia. E quem faz esta afirmação em tom de pesar é a professora do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Zelinda Leão, que desde a década de 1970 estuda os recifes de coral ali presentes.

Trata-se da mais extensa bancada de corais do Brasil e do Atlântico Sul, que resguarda, justamente por causa disso, a maior biodiversidade marinha da porção sul do Atlântico, com mais de 1.300 espécies já registradas entre fauna e flora. A região possui ainda a maior produção pesqueira da Bahia, movimentando aproximadamente R$ 100 milhões por ano e provendo sustento a mais de 20 mil famílias.

Não à toa, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, criado em 1983, é a primeira unidade de conservação marinha do país, protegendo o arco de recifes costeiros e o Arquipélago dos Abrolhos, formado por cinco ilhas.

Soma-se a tudo isso, já chegando na terra, rios que penetram por imensos manguezais, como o da Reserva Extrativista de Cassurubá, que tem mais de 10 mil hectares. Na última sexta-feira (25), o óleo chegou em grande volume numa praia de Ilhéus, no Sul da Bahia. Por terra, a cidade está cerca de 400 quilômetros ao norte da região de Abrolhos.

Como a mancha já percorreu mais de 2500 quilômetros desde o Maranhão, o temor de que ela toque os recifes do Parque Nacional é cada vez mais tangível.

“Estamos rezando pra não chegar lá. Toda essa riqueza, essa diversidade, só existe por causa dos corais. Alguns ali são únicos no mundo, têm muitas características particulares, que chamam a atenção desde 1832, quando Charles Darwin esteve em Abrolhos”, observa Zelinda Leão.

Ela explica que se o óleo atingir os corais é muito provável que eles morram, dando início a uma reação em cadeia de total desequilíbrio do ecossistema. Sem os corais, os organismos satélites somem, levando embora também moluscos, crustáceos e peixes que deles se alimentam.

Na ponta da cadeia, estão as baleias jubarte, que todos os anos deixam o Polo Sul para se reproduzir nestas águas da Bahia – também graças aos corais. Por BBC