Por mais que haja um apelo midiático forte com a CPMI do dia 8 de janeiro, a Comissão Parlamentar de Inquérito do MST, instalada na Câmara dos Deputados, pode provocar dor de cabeça no governo federal. Se o tema não fosse sensível, uma CPI similar teria funcionado na Assembleia Legislativa da Bahia, então é preciso ficar atento ao que pode acontecer no colegiado autorizado por Arthur Lira.

A instalação dessa CPI na Câmara evidencia que a articulação política do governo Luiz Inácio Lula da Silva não está afinada com os deputados. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra sempre foi um tema delicado nos governos petistas e o tratamento concedido ao agrupamento continuou alvo de críticas desde então. As disputas por terra são o pano de fundo para um problema maior e relativizado pelo Estado brasileiro. Durante a passagem da esquerda pelo poder, houve avanços, mas também retrocessos, intensificados especialmente após o impeachment de Dilma Rousseff. Essa questão está longe de ser resolvida e o comportamento do MST no início de Lula III mostra que não é possível “controlar” os movimentos sociais no cabresto, ainda mais quando se fala da esquerda.

Aproveitando esse caldo primordial, a oposição ao PT propôs a instalação da CPI do MST, enquanto os olhos se voltavam para a disputa na CPMI do 8 de janeiro. Nela, o palco para que o agro mantenha boas relações com o bolsonarismo está montado e há pouco esforço, até aqui, para reverter o quadro. Para uma parcela da sociedade, a ocupação de terras é uma ação de criminosos e precisa ser encerrada – inclusive, com o uso da força estatal. Não se busca coibir esse pensamento limitado e o colegiado formado agora vai servir exatamente para endossar esse viés de confirmação dos setores mais conservadores. Se não houver cautela, o teatro dessa CPI pode provocar mais dor de cabeça no governo do que qualquer outra.

Na Assembleia da Bahia, ainda há um esforço para instalar uma CPI com o tema. Na esfera administrativa não deve haver reconsideração da Procuradoria Jurídica do Legislativo baiano. Caso o autor, Leandro de Jesus (PL) opte por ingressar no Judiciário, dificilmente haverá interferência entre os Poderes – basta ver a forma como processos assim tem sido julgados. Ou seja, se a oposição baiana precisar de um palco para atacar o MST, terá que recorrer a CPI da Câmara. Lá, todavia, o duelo por holofotes será ainda maior. A depender da forma como o colegiado for conduzido pelos deputados federais, Lira criou a pedra no sapato que os adversários de Lula precisavam. (BN)