Interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que ele vem perdendo um tempo precioso para virar o jogo da economia e colher frutos positivos já nas eleições municipais do ano que vem.

Segundo eles, em vez de ficar atacando o Banco Central, Lula precisa enfrentar a questão fiscal – e aproveitar que já há clima favorável a mudanças nessa área, no Congresso.

Esses interlocutores avaliam que, se o governo enviasse a proposta do novo arcabouço fiscal ao Congresso imediatamente, os juros poderiam cair no segundo semestre, ou até antes. A nova regra fiscal vai substituir o atual teto de gastos, que limita as despesas do governo.

Se a proposta for aprovada e os juros caírem, o país tende a crescer mais em 2024 – um ano importante para o PT e os partidos aliados, quando são disputadas as prefeituras do país.

Por enquanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem prometido encaminhar a proposta de âncora fiscal ao Congresso em abril, o que sinalizaria um compromisso com o controle das contas e a redução da dívida pública. Aliados de Lula têm defendido que ele antecipe o envio da proposta para o início de março, acelerando a sua votação.

Empresários concordam

Entre empresários, a mesma avaliação é feita. Eles até concordam com as críticas do presidente Lula aos juros altos, hoje em 13,75% ao ano, mas destacam que ele acerta no conteúdo, mas erra na forma.

As críticas públicas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acabam gerando instabilidade e incertezas na economia.

Um empresário disse ao blog que Lula está perdendo tempo ao ficar criticando o BC, em vez de fazer a sua parte, que é mostrar na prática que irá cumprir o seu discurso, de que vai governar com responsabilidade fiscal.

Ele até compreende e diz compartilhar da angústia do presidente, mas avalia que isso não resolve o problema e, pelo contrário, pode agravá-lo. Neste ano, as previsões apontam para um crescimento abaixo de 1%.

No ano que vem, em meio à eleição municipal, as previsões apontam também para um crescimento pequeno – cenário que pode mudar se a economia entrar nos eixos.

E isso passa necessariamente pela área fiscal. Um aliado de Lula diz que o presidente não pode ficar usando a responsabilidade social, essencial neste momento do país, para justificar suas críticas ao BC. Por Valdo Cruz/G1