A Câmara dos Deputados eleita no último domingo (2) tem 21% dos parlamentares autodeclarados pretos e pardos – uma baixa representatividade em relação a população negra no Brasil, que ainda assim é colocada em dúvida diante do alerta de possíveis fraudes.

Pelo menos 60 de 135 deputados eleitos que se autodeclaram pretos e pardos apresentaram discrepância racial em um estudo de heteroidentificação conduzido pelo sociólogo Luiz Augusto Campos, coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da UERJ.

“O parlamento eleito é mais branco do que a gente imagina”, afirmou o sociólogo em entrevista a Renata Lo Prete.

Samuel Vida, coordenador do Programa de Direito e Relações Raciais na UFBA, defende a criação de comissões de heteroidentificação como uma das estratégias para combater o racismo institucional.

“Nós precisamos que os candidatos que se autodeclaram pardos e pretos sejam atestados por uma comissão habilitada para tanto”, afirma.

Segundo o professor de Direito, as ações afirmativas na última década pode ter acompanhado fraudes, mas também levou ao aumento da autoidentificação entre pessoas negras, e por isso devem ser ampliadas.

“É preciso estabelecer uma normativa que reserve vagas nas estruturas parlamentares: na Câmara, no Senado, nas assembleias legislativas, nas câmaras municipais…que forcem essas instituições a absorverem pessoas negras e forcem, por tabela, os partidos políticos a valorizar as lideranças negras a incorporarem as candidaturas negras de forma séria, de maneira que elas possam ocupar essas cotas, evitando que a reserva de vagas ou adoção de recursos apenas para as candidaturas seja fruto de tanta manipulação e esvaziamento como temos assistido no Brasil.” G1