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Segundo o dado mais recente da ONU, mais de 800 crianças foram mortas nos ataques recentes ao Oriente Médio. Principais vítimas da guerra, muitas não têm a opção de deixar a região de conflito porque não têm condições ou precisam do suprote de equipamentos médicos. A psicóloga do Médicos Sem Fronteiras, Ionara Rabelo, que já atuou em regiões como a Palestina e a Síria, ressaltou a importância de garantir um ambiente seguro aos pais e responsáveis para que, assim, eles possam efetivamente oferecer ajuda às crianças a lidar com a situação.

“É necessário que esses pais e responsáveis consigam manejar o próprio estresse pra depois manejarem o das crianças. Então daí a importância de corredores humanitários e de ter espaço de proteção para civis, para que pais e responsáveis possam cuidar das crianças, tanto aquelas que estão hospitalizadas, quanto aquelas que não estão, para que rapidamente a gente possa manejar esse estresse agudo.”

A especialista conta que parte do trabalho com os jovens em zonas de conflito é a partir de brincadeiras como jogos, desenhos e massinhas. Depois de alguns dias, essas crianças conseguem até mesmo transferir para essas brincadeiras aquilo que vivenciaram na guerra: “No conflito na Síria, toda vez que elas iam desenhar, elas desenhavam as munições que elas encontravam nas ruas, então a guerra passa a fazer parte até do brincar, como se fosse uma forma de elaboração.”

Para Ionara, é importante não só desenhar e conversar sobre isso com as crianças, mas também resgatar a esperança entre os pequenos. “Senão cada vez mais a noção de morte e de guerra toma conta dessa vivência infantil, e é cada vez mais difícil dar esperanças e encontrar uma forma de lidar com essa dor e angústia que eles estão vivendo”, afirma.

Médicos se recusam a deixar hospital em Gaza mesmo após ordem de evacuação

No norte de Gaza, médicos do hospital Kamal Edwan decidiram permanecer no local mesmo depois de receber ordem de evacuação. O hospital infantil contém enfermarias importantes, incluindo uma unidade de cuidados intensivos que é considerada a única no norte da Faixa de Gaza. Eles cuidam de dezenas de recém-nascidos e crianças que precisam de suporte médico.

“Se querem nos matar, nos matem enquanto continuamos trabalhando aqui, não iremos embora.” O médico Hussam Abu Safiya disse que retirar as crianças dali neste momento seria o mesmo que condená-las uma sentença de morte. “Precisamos de dias e semanas para garantir outro lugar. Infelizmente, não existem berçários vazios nestas condições difíceis. A situação é realmente perigosa. Se quiser saber o que vai acontecer, direi desde já que transferir estas crianças deste lugar significa dar a elas uma sentença de morte”, afirma.

Muitos desses recém-nascidos estão ligados a ventiladores e incubadoras para tratar uma variedade de doenças. Husam conta que muitas das crianças dependem principalmente de equipamento médico porque sofrem de doenças específicas, com as quais nasceram. “Não há humanidade no mundo que concorde em desligar estas crianças deste equipamento e transferi-las para outro local.”

Até agora, mais de 5 mil pessoas morreram desde o início do conflito no Oriente Médio. Os aviões e a artilharia israelitas submeteram Gaza a intensos bombardeios, em resposta à morte de 1.300 pessoas em Israel durante um ataque do Hamas no dia 7 de outubro. G1