Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tende a ser pego para Cristo no período pré e pós-eleição para sucedê-lo. A forma como o dirigente conduziu o processo e os embates públicos com o presidente Jair Bolsonaro devem ser decisivos para que Baleia Rossi (MDB-SP), escolhido por Maia como seu candidato, não saia vitorioso na disputa contra Arthur Lira (PP-AL). Mesmo assim, o grupo do entorno do atual presidente não vai jogar a toalha até o final da corrida.

Lira foi esperto na construção das narrativas. Mesmo que seja o candidato de Bolsonaro, o alagoano conseguiu arregimentar o apoio dos parlamentares prometendo independência da Câmara. Muitos deles, inclusive, tentaram convencer que Rossi era mais governista que ele, algo que beira o insulto à inteligência alheia. A influência da máquina do Planalto nessa disputa só azeitou a candidatura construída pouco a pouco e com um trabalho de “formiga”, atuando tanto no varejo tanto quanto no atacado dos votos.

Como politicamente deputados e senadores não conseguem enxergar razões para sangrar Bolsonaro, como aconteceu com Dilma Rousseff em 2015 e 2016, os atritos de Rodrigo Maia com o chefe do Executivo fortaleceram o discurso de Lira. Para esses parlamentares, não cabe a Câmara atuar como oposição, no máximo como contraponto – não que eu concorde com a análise, mas é esse o argumento. Assim, é palatável para os deputados encontrar uma candidatura de “meio-termo”, distante de eventual extremo inspirado por Maia.

Outro ponto a ser levado em consideração foi a própria escolha de Rossi. O presidente da Câmara deixou aliados pelo caminho e ao menos dois nomes considerados “traídos”, Elmar Nascimento (DEM) e Marcos Pereira (Republicanos), se tornaram ardorosos defensores do adversário político do ainda comandante do Legislativo. O correligionário baiano, então, tem atuado “com o fígado” para se vingar do antigo parceiro de cozinha – ambos dividiram apartamento em Brasília. Parte porque Maia não explicitou desde o princípio que Elmar era candidato apenas de si mesmo, apesar do próprio bradar publicamente que era um favorito.

Depois de ter se tornado uma espécie de “herói” por dar algum tipo de freio aos arroubos de Bolsonaro, esse ocaso da era Maia na Câmara acabou afetado pelo excesso de confiança do cacique carioca. Sentado sob uma pilha de pedidos de impeachment, o deputado terá que lutar para não ficar conhecido como aquele que quase evitou que o Brasil permanecesse numa crise política sem fim. E olha que o presidente da República tem se esforçado bastante. (Por Fernando Duarte/Bahia Notícias)