Surpreendida pelo temporal que devastou o Litoral Norte de São Paulo, a turista Juliana Braga integrou uma rede de mobilização para ajudar as vítimas da Vila do Sahy, uma das áreas mais afetadas pelas chuvas em São Sebastião (SP).

Segundo o último balanço divulgado pelo governo estadual foram registradas 44 mortes (43 em São Sebastião e uma em Ubatuba). Além disso, equipes de resgate mantém buscas por ao menos 40 desaparecidos, de acordo com a Defesa Civil.

A publicitária, que frequenta o local há 15 anos e conhece muitos moradores, ajudou no atendimento às vítimas na ONG Verdescola, que abrigou e arrecada mantimentos para as vítimas.

Com a Vila do Sahy ilhada, sem acesso por terra, a rede de voluntários resgatou as vítimas, tentou tratar feridas, retirou corpos de mortos da lama e cuidou de quem estava sem ter onde ficar.

“Foi uma catástrofe. Os moradores indo até os morros resgatar os corpos e usando a escola para separar os corpos, tratar as vítimas graves e os feridos leves. Tinha voluntário fazendo comida, gente sendo costurada no chão, pessoas todas sujas de lama, corpos sendo identificados, gente machucada e tentando ajudar nas buscas ou da forma que pudessem”, disse.

Famílias destruídas

Juliana conta que ajudou separando materiais de curativo, auxiliando na cozinha e também na montagem de lista de pessoas desabrigadas e desaparecidas. Nesse período, ela conta que teve contato com histórias e angústias que nunca vai esquecer.

“Foi e está sendo uma coisa absurda. É um cenário que nunca imaginei, gente chorando, todo mundo desesperado para encontrar o pai de uma criança e depois descobrir que o pai morreu ou ver uma mãe descobrindo que os filhos morreram. A cena mais horrível foi ver uma mãe com um bebê de sete meses morto nas mãos. Ela não entregava o bebê, dizia que não podia largar o filho, foi desesperador”, narrou.

“Muita gente com parentes perdidos, muita gente na rua, as pessoas não sabem onde estão os parentes. Sabem que estão soterrados, mas não sabem se com vida ou não”, completou.

Tragédia sem precedentes

Ainda segundo a voluntária, estavam todos tão imersos e dedicados em ajudar o próximo, que somente nesta segunda-feira que muitos dos moradores tiveram conhecimento da proporção da tragédia e da repercussão.

“Lá na escola, ninguém estava com o celular na mão, estava todo mundo focado em ajudar. A gente percebeu a gravidade da tragédia, mas não tinha sinal de celular, não tinha como se comunicar com ninguém e somente quando a energia de algumas casas voltou, que o wi-fi voltou a funcionar e os moradores tiveram noção do tamanho da tragédia. Até quem mora aqui há 40 anos nunca viu nada parecido”, contou.

Juliana afirma que mesmo quem sobreviveu e não se feriu passa por uma situação complicada. Como no local a ajuda chega somente de helicópteros ou aeronaves, não foram entregues doações e remédios para todos os moradores, que enfrentam filas quilométricas para conseguir algo para comer.

“A gente tá precisando de doação de gás, porque o gás da escola acabou e não tem como fazer comida. Aqui tem uma farmácia, dois mercadinhos e uma padaria. A farmácia está fechada e o restante com filas enormes e os estabelecimentos com estoque pequeno”, narrou.

Com a interdição das rodovias, Juliana deve continuar mais um período na cidade e enquanto estiver lá vai se voluntariar. Ela teme que a tragédia seja esquecida e que daqui algumas semanas, os moradores deixem de receber o apoio solidário de todo o país, com doações.

“Daqui uma semana vai abrir o sol, vão limpar as ruas, será que vão pensar em todas essas pessoas sem condições financeiras que perderam tudo? A comida vai acabar, a água, o papel higiênico e não tem onde comprar. As pessoas estão dormindo em barracas na lama! Eu estou em estado de choque”, disse. G1