Corpo de Bombeiros trabalha no resgate e ajuda a moradores de Rio Pardinho. Fotos: Lauro Alves/ Secom

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul coletaram, entre os dias 8 e 11 de maio, 92 amostras das águas das enchentes na capital Porto Alegre e nas cidades de Gravataí e Eldorado do Sul e constataram índices elevados de bactérias, principalmente a leptospira, que causa leptospirose.

Quatro mortes pela doença já foram confirmadas no estado desde o começo das enchentes. Até a noite de domingo (26), 124 casos já tinham sido confirmados no estado e outros 714 estavam sendo analisados.

Em apenas três unidades de saúde de Porto Alegre, os casos saltaram de uma média de cinco por mês para 63 em maio, com mais de 50 ainda aguardando por exames de confirmação.

Segundo Salatiel Wohlmuth da Silva, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, as análises apontaram que vários parâmetros estão fora do índice de qualidade de água.

Ilma Brum, professora do Departamento de Fisiologia e diretora do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS, reforça que os casos devem continuar aumentando, já que a leptospira se propaga de forma bastante rápida, podendo causar sintomas em humanos e também nos animais.

Brum também reforça que, mesmo depois de a inundação recuar, a lama que sobrar pode concentrar toda a contaminação que estava dispersa na água.

“A leptospira permanece viva no lodo enquanto estiver úmido por 10 a 15 dias. Então, por isso, o cuidado e a necessidade de se usar equipamentos de proteção a todo momento”, diz a professora. Além da leptospira, a pesquisa também constatou altos índices de outras bactérias, como a E.coli, que causa principalmente diarreia.

“As que mais aparecem são os casos de gastroenterite e síndromes febris, de Infecções virais. E também muitas infecções de pele em pessoas que ficaram muito expostas muito tempo à água”, relata Daniel Fontana Pedrollo, chefe da emergência do Hospital das Clinicas de Porto Alegre.

Segundo os pesquisadores da UFRGS, os índices altos de contaminação tem relação direta com o transbordamento de estações de esgoto. As águas do Guaíba ultrapassaram a marca de 5,3 metros. No dia 4 de maio, invadiram cinco estações em Porto Alegre. Em minutos, litros de esgoto que estavam nos tanques das estações se misturaram à enchente e se espalharam pela cidade.

Das sete estações de tratamento de esgoto de Porto Alegre, duas seguem paradas, inundadas. Mais da metade das bombas que deveriam puxar a água das chuvas não está funcionando, o que causa o entupimento das redes de escoamento e mantém as águas contaminadas na superfície.

“Muitas nós estamos ainda recuperando os motores, que foram muito inundados, e é todo um processo até retomar plenamente o funcionamento de todo o sistema. Devem ter uns 10 a 15 dias de muito trabalho ainda”, diz Maurício Loss, diretor-geral do Departamento Municipal de Águas e Esgoto de Porto Alegre.

O estudo identificou ainda nas amostras diferentes tipos de vírus, como o SARS-Covid-2, responsável pela Covid-19, e os causadores da Hepatite A e Hepatite E, uma variante mais rara da doença.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que está enviando ao Rio Grande do Sul uma equipe de profissionais para definir uma estratégia conjunta com infectologistas, técnicos e sociedade civil na prevenção e controle de doenças transmitidas pelas águas contaminadas. G1