Ricardo Stuckert

O ex-presidente Lula (PT), em entrevista ao jornal italiano Il Manifesto, falou sobre a eleição presidencial de 2022 e sobre seus adversários. O petista é líder – com folga – em todas as pesquisas, seguido por Jair Bolsonaro (PL) e, mais distantes ainda, pelo ex-juiz parcial Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT). Segundo Lula, Bolsonaro jamais teria sido eleito presidente da República “em um contexto de normalidade democrática”.

“Ele não teria sido eleito se não fossem as circunstâncias excepcionais criadas pelo golpe contra a presidente Dilma Rouseff, a demonização da política democrática, a perseguição ao PT e minha prisão ilegal”. O ex-presidente não deixou de destacar o papel fundamental da imprensa na ascensão bolsonarista: “foram decisivos nesse processo de descumprimento da lei. Lançaram uma feroz campanha de aniquilação contra nós e, ao mesmo tempo, forjaram uma falsa imagem de Bolsonaro como o ‘salvador’ do país. Inventaram um ‘mito’ de Bolsonaro que, naquele contexto, iludiu muita gente, inclusive segmentos das classes populares”.

O petista ressaltou, no entanto, que “hoje a situação se inverteu completamente”. “A decepção com o atual governo é enorme, e é ainda maior do que o próprio Bolsonaro, apesar do forte apoio midiático que ele continua tendo. Sua negação absurda já custou milhares de vidas ao país. A pobreza e a fome voltaram a ser o jornal diário de milhões de brasileiros, o país mergulha em profunda crise econômica, com desemprego e fome atingindo níveis assustadores, sem pensar no isolamento internacional do Brasil, que parece ter se tornado uma piada mundial. Mas, felizmente, a maioria da população está ciente da responsabilidade de Bolsonaro nesse desastre e quer derrotá-lo nas eleições de outubro próximo”.

Perguntado sobre Moro, Lula disse que o discurso “vazio” do ex-juiz pautado somente no suposto combate à corrupção não vai colar. “Quem quiser ser candidato, seja. A democracia pela qual tanto lutamos no Brasil permite isso. Moro terá o direito de ser candidato livre, o que me negou em 2018. Se ele tem um projeto para o país, que o apresente, desta vez sem se esconder atrás de uma toga. Mas as pessoas não estão interessadas em promessas vazias, porque o que está vazio agora é o prato e a geladeira dos brasileiros. As pessoas passam fome, não têm trabalho, ou trabalham precariamente, muitos vivem na rua, outros com salários cada vez mais baixos e com preços cada vez mais altos”. À rádio Banda B, de Curitiba, nesta terça-feira (15), o ex-presidente afirmou que quanto mais Moro se expuser, “mais vai desnudar quem é aquele homem sem toga”.

Quando questionado sobre a recente crise de partidos de esquerda no mundo, Lula disse que a política internacional foi encantada pelo “canto da sereia” do neoliberalismo econômico, mas que o modelo se provou “fracassado”. “Hoje está claro que o neoliberalismo é um modelo econômico e social fracassado. A própria luta contra o coronavírus mostrou que é preciso resgatar o papel de convencimento e coordenação do Estado Democrático de Direito. A crise econômica de 2008 já havia revelado a insensatez de uma economia desregulada, o tremendo risco do capital financeiro que se entrega de forma irresponsável apenas em busca do lucro fácil”.