© Tânia Rêgo/Agência Brasil

A Bahia foi o estado com a maior diferença entre as taxas de desocupação para mulheres pretas ou pardas (19,9%) e mulheres brancas (11,9%), de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados de 2022, divulgado na sexta-feira (8). Ainda assim, as mulheres brancas apresentaram um indicador menor do que o dos homens (12,3%) pela primeira vez nos 11 anos de série histórica.

De acordo com Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informação do IBGE, existe maior dificuldade de mulheres negras conseguirem emprego, seja por escolaridade ou por tempo de dedicação às atividades domésticas. “As mulheres pretas ou pardas são as que mais horas de afazeres domésticos e cuidado de pessoas. Elas, via de regra, acabam tendo uma renda média menor em relação às mulheres brancas, porque existe desigualdade de renda por cor ou raça. Toda essa sobrecarga aliada, talvez, a questões de nível de instrução, acaba concorrendo para que haja essa desigualdade”, analisa.

De modo geral, as mulheres baianas dedicam pouco mais que o dobro de horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados com pessoas, quando comparadas aos homens. Em média, elas doam 23,1 horas por semana a essas atividades, frente a 10,9 horas dos homens.

A diferença de gênero no tempo dedicado aos fazeres domésticos não é uma exclusivadade da Bahia, que tem a quarta maior diferença de horas do país. Mariana Viveiros aponta que distinções na divisão do trabalho, além da cultura que legitima o afastamento dos homens dessas atividades são algumas das motivações que contextualizam esse dado.

Por outro lado, ela também indica a falta de rede de apoio para mulheres como outro grande desafio que ajuda a manter tal desigualdade. “Existe a necessidade de apoio oferecida pelo Poder Público, pelas instituições e pelas empresas. A falta dessas ofertas de serviço e rede de apoio que possam ajudar a mulher é importante nessa sobrecarga”, diz.

Em relação às diferenças raciais, as mulheres brancas ocupadas gastavam 17 horas semanais em afazeres e cuidados de pessoas, enquanto as mulheres pretas ou pardas ocupadas gastavam 19,5 horas, ou seja, 2,5 horas por semana a mais. Nessa comparação, a Bahia tinha a segunda maior diferença entre os estados.

De acordo com o mesmo levantamento, na Bahia 53,3% das mulheres entre 25 e 54 anos de idade trabalhavam naquele em 2022. Essa proporção aumentava para 56,8% entre as que moravam em domicílios onde não havia nenhuma criança de até 6 anos; e caía para 45,7% entre as mulheres que tinham ao menos uma criança em casa. Com isso, as mulheres baianas com criança em casa tinham um nível de ocupação 19,5% menor do que as mulheres sem criança em casa. Essa desigualdade era a 4ª maior entre os estados.

Para Mariana Viveiros, essa realidade está totalmente entrelaçada com os papéis de cuidadoras que as mulheres exercem em suas casas. “A necessidade de realizar cuidados para essas crianças impacta no acesso da mulher ao trabalho remunerado. Nesse caso, faltam serviços e redes de apoio, como creches e escolas integrais públicas”, pontua. Correio da Bahia