“Melhor sensação do mundo é poder voltar para casa, para a minha vida. Estou muito feliz. O pesadelo acabou”. Assim o velejador baiano Rodrigo Dantas, de 26 anos, um dos três brasileiros que ficaram presos por 18 meses em Cabo Verde, na África, descreveu a sensação de retornar para casa onde mora com os pais, em Salvador.

Ele e os outros dois brasileiros foram presos por suspeita de tráfico internacional de drogas, após a embarcação em que estavam ser flagrada com uma tonelada de cocaína.
Rodrigo, o também baiano Daniel Dantas e o gaúcho Daniel Guerra, desembarcaram em Salvador na madrugada desta quinta-feira (14), pouco depois de 1h.

Um vídeo mostra a chegada de Rodrigo, recepcionado sob muitos aplausos por parentes e amigos. Os três chegaram a ser julgados e condenados a 10 anos de prisão, mas o julgamento foi anulado e eles foram liberados para responder ao processo em liberdade. Eles deixaram a cadeia na última quinta-feira (7).

“Todos os dias quando deitava na cama eu sonhava em estar de volta à minha casa. Da única janelinha da cela, que dava para ver um pedacinho do céu, sempre via aviões passando e me imaginando indo embora em um deles. O melhor momento naquele lugar era a noite, quando eu dormia e podia sonhar estando fora dali”, disse Rodrigo.

Ele dividiu a mesma cela com o gaúcho Daniel Guerra e outro homem preso em Cabo Verde, suspeito de ter matado a esposa. Daniel Dantas ficou em uma outra cela. Rodrigo afirma que o clima no presídio era tranquilo.

Segundo o velejador, nos primeiros cinco meses em que ficou preso, ele e Daniel ficaram no setor de segurança máxima, em uma cela de onde só podia sair para ir ao banheiro três vezes ao dia. Depois do julgamento, eles foram para uma cela normal em que o acesso ao banheiro era liberado.

“Na cela em que ficamos nos primeiros meses não tinha banheiro. A porta só abria três vezes no dia pra gente usar o banheiro, tomar banho. Nos outros horários, a gente tinha os baldinhos com tampas para fazer qualquer necessidade. A gente tinha que tentar controlar o nosso horário. Numa necessidade mais simples, a gente tinha o balde. Se fosse algo mais urgente, tinha que usar um saco. Era deplorável a situação”, disse.

Na cela, descreve Rodrigo, havia duas camas e ele e o Daniel tinha que adotar um esquema de revezamento.

“Tinha duas camas e três colchões. O preso que era de Cabo Verde já estava em uma das camas quando a gente chegou. Então, eu e o Daniel revezávamos entre a cama e o colchão que ficava no chão. Lá não tinha superlotação, como a gente vê no Brasil. Em cada cela ficavam sempre três pessoas e pouco se via confusão entre os presos”, relatou.

Rodrigo também disse que a comida servida na cadeia não era das melhores, mas que podia receber alimentos levados pela família.

“De manhã tinha pão com café com leite. Às 11h, o almoço. Nada muito especial. Na noite tinha o famoso prato lá de Cabo Verde, que é a cachupa, mas ainda assim não é tão boa quanto na rua. Mas, duas vezes na semana, a gente podia receber uma sacola de casa com comidas. Como eu tivesse acesso a comida de fora, deu pra me virar bem”, destacou. Informações do G1 Foto: Alan Tiago Alves/G1