Agência Senado

O ex-assessor do Ministério da Saúde Airton Soligo apresentou à CPI da Covid nesta quinta-feira (5) ao menos quatro motivos para tentar justificar o motivo pelo qual atuou por quase dois meses de maneira informal no governo.

A atuação de Soligo é alvo de investigação da Procuradoria da República no Distrito Federal. A suspeita é de usurpação de função pública, ou seja, da ocupação de um cargo de maneira informal. Ex-deputado e empresário, Soligo era um dos braços-direitos do ex-ministro Eduardo Pazuello na pasta.

Segundo as apurações, há registros das ações de Soligo em ações exclusivas de gestores públicos, como agendas públicas de Pazuello sobre respiradores e ações com prefeitos e secretários estaduais de saúde. Aos senadores, Soligo apresentou os seguintes argumentos para a demora em sua nomeação:

  • problema de pressão alta que lhe deixou em repouso
  • a renúncia do então ministro Nelson Teich
  • cartórios fechados, que lhe impediram de se desvincular de uma empresa
  • rejeição inicial da Casa Civil à sua nomeação

Convite de Pazuello

Soligo também confirmou que se mudou para Brasília após convite de Pazuello. À época, o general era o secretário-executivo do Ministério da Saúde – o ministro era Nelson Teich. “Eu sou produtor rural, vivo e moro numa fazenda, sou produtor de melão. Recebo um telefonema do general Pazuello me convidando, com poucas palavras, estilo militar, que estava numa missão e que precisava de alguém que tivesse o conhecimento e a articulação político-institucional, e se eu poderia vir aqui em poucos dias. Eu disse: ‘Olha, eu posso dar um pulo e ver em que eu posso ajudar’”, contou.

Soligo disse também que foi a Manaus no início de maio, durante a crise da primeira onda da Covid, e que no dia “5 ou 6” daquele mês Teich o convidou para integrar a equipe. Ele afirmou que chegou em Brasília no dia “6 ou 7” de maio e que, no dia seguinte, teve um problema de pressão alta que lhe deixou cinco dias de repouso.

Passado esse período, foi assumir a função.“ É 12 de maio, e vou lá me apresentar ao ministro Teich, para ser seu futuro assessor especial – tinha recebido o convite. Pasmem os senhores: três dias depois, o ministro Teich cai, renuncia”, afirmou Soligo.

Pazuello foi nomeado ministro interino de Teich e, segundo Soligo, reforçou o convite para assumir uma função de secretário ou assessor especial no Ministério da Saúde. Ele topou, mas o problema, dessa vez, estava em se desvincular de uma empresa do qual é sócio. “Os cartórios naquele momento estavam fechados. Isso já leva uma semana”, disse.

Após isso, Soligo contou que seu nome foi encaminhado para autorização da Casa Civil no início de junho. “E demorou. Houve, inclusive, uma rejeição ao meu nome lá na Casa Civil. Escutei boatos de questões algumas, não posso afirmar nenhuma”, explicou. A nomeação de Soligo como assessor especial de Pazuello acabou sendo formalizada no dia 24 de junho de 2020.

Trabalho formal e informal

Aos senadores, Soligo afirmou que, enquanto não estava oficialmente nomeado no ministério, sua atuação não tinha uma definição específica, mas que trabalhou como interlocutor do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais). Nessa função, disse, estabeleceu uma relação de diálogo institucional com prefeituras, estados e municípios.

Já como assessor especial, Soligo afirmou ter trabalhado na interlocução com parlamentares, prefeitos e secretários de saúde. Entre suas ações, ele ressaltou o papel de ser um “pacificador” nas tratativas sobre a CoronaVac. Como exemplo, citou encontro com o ex-deputado Antônio Imbassahy, que atua como chefe do escritório do governador de São Paulo, João Doria, em Brasília. G1