Um estímulo para continuar a maior operação de resgate do Brasil. É assim que Tenente Vagner Gavioli, um dos militares empenhados nas buscas, em Brumadinho, define como os bombeiros se sentem após encontro do corpo de mais uma vítima em Córrego do Feijão, há exatamente uma semana. Até agora, a tragédia, que completou sete meses, deixou 249 mortes e 21 pessoas continuam desaparecidas.

“O bombeiro militar, desde seu treinamento, tem como objetivo a finalização da missão. Para isso, sabe que passará por situações que irão exigir dele determinação, força, habilidades e, dentre tantas outras necessidades relacionadas à atividade, a paciência”, disse o tenente, que intercala períodos de atuação no pelotão de Piumhi, na Região Oeste de Minas, com o de buscas, em Brumadinho .

João Paulo Ferreira Valadão foi encontrado pelos militares depois de 51 dias da localização da vítima anterior. “É visível a diferença de semblante e do desempenho dos militares quando encontramos algo e temos o retorno de que foi mais uma ‘jóia’ encontrada”, afirmou.

Tenente Gavioli era um dos militares escalados na operação da semana passada — Foto: Vagner Gavioli/Arquivo pessoal

O tronco e a cabeça do funcionário terceirizado da Vale foram encontrados na área denominada Remanso 1 Esquerdo, após intensa escavação pela lama espessa de minério. Segundo Tenente Gavioli, cinco militares estavam nesta área.

“É área de confluência de nascentes de água, que deixa o material muito pastoso. Isso dificulta a visibilidade de qualquer coisa que tentamos procurar, os maquinários têm grande dificuldade de estabilidade para trabalhar e o desgaste do militar é grande também, além de maior probabilidade de contaminação”, disse.

Trabalho de inteligência é primordial para estabelecer áreas de buscas — Foto: Corpo de Bombeiros/ Divulgação

Segundo o tenente, o Corpo de Bombeiros atua nesta frente de trabalho há mais de três meses, porque ali foram encontrados vários materiais, objetos e segmentos que sugeriram que a vítima pudesse estar naquele ponto. Mas, as chances de outros corpos estarem no local é pequena, já que o rejeito foi quase todo removido daquele ponto.

As frentes de trabalho onde os militares vão se concentrar são definidas pela equipe responsável pelo trabalho de inteligência. Detalhes como nome e hábitos das vítimas, onde estavam ou costumavam ficar no horário exato do rompimento da barragem, é de conhecimento dos militares que traçam o mapeamento para as buscas.

Para continuar de forma ininterrupta, uma média de 120 a 130 bombeiros por dia estão em campo. Estes militares são escalados para um período de sete dias de trabalho, com sete dias de intervalo entre períodos.

Os militares empenhados para a Operação são escalados para “Campo” (zona quente) e “Staff” (Posto de Comando). Quem vai para o “Campo”, pode ser escalado, no máximo, até 3 vezes, completando 21 dias de exposição à lama. Depois disso, não volta mais ao trabalho nos rejeitos. Militares escalados para o Staff não tem limite de dias.

Chegada do período chuvoso pode deixar a lama mais fluida e complicar o trabalho dos bombeiros — Foto: Reprodução/TV Globo

Quando a chuva chegar

A chegada do período chuvoso pode fazer o Corpo de Bombeiros reduzir as frentes de trabalho sob a lama de rejeitos que destruiu a área administrativa da Vale, uma pousada e casas de Córrego do Feijão, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro.

Os bombeiros vão priorizar buscas mais na superfície. Com menos esforço empregado em escavações profundas, será possível ampliar as áreas de buscas. Isso porque, segundo o militar, foi constatado que cerca de 87% dos corpos foram encontrados a uma profundidade aproximadamente de uma camada de um metro, e cerca de 90% dos corpos foram encontrados em profundidade de até três metros. G1