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A cantora Karina Buhr denunciou, pelas redes sociais, estupros e extorsões que, segundo ela, foram praticados pelo babalorixá e vocalista do afoxé Ylê de Egbá, o Pai Dito D’Oxóssi, que morreu no dia 15 de dezembro. Ela publicou um texto em que afirma ter sido abusada pelo religioso, há 20 anos, e ter acionado, um ano atrás, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) sobre o caso.

Expedito Paula Neves, de 57 anos, era mais conhecido como Pai Dito D’Oxóssi e teve uma parada cardiorrespiratória. A família do babalorixá afirmou ao G1 desconhecer a denúncia feita pela cantora e lamentou o momento escolhido para a publicação do relato. Procurada pela reportagem, Karina Buhr afirmou que não daria entrevista sobre o assunto e que tudo o que tinha a dizer sobre o caso estava no relato.

No texto, ela contou que decidiu fazer a denúncia quando o religioso ainda estava vivo, mesmo 20 anos depois. Ela ficou sensibilizada com o depoimento de uma vítima de João de Deus, condenado a 19 anos de prisão por crimes sexuais cometidos contra quatro mulheres durante atendimentos espirituais.

Um ano atrás, a cantora prestou depoimento por cerca de três horas à promotora de Justiça Criminal de Olinda e Recife Henriqueta de Belli, que encaminhou um termo de declaração para seguir com a denúncia. Karina, no entanto, disse nunca ter assinado o documento por medo. Segundo a promotora de Justiça, após a morte de Pai Dito D’Oxóssi, a cantora voltou a procurá-la, mas, por causa do falecimento, foi extinta a punibilidade do crime.

“Ela me procurou acompanhada de uma advogada de uma ONG feminista. Ela contou que foi muito extorquida, a ponto de o local onde funcionam a casa e o terreiro dele terem sido pagos por ela, e contou que foi estuprada. Por causa do tempo, o único crime que não teria prescrito seria o estupro, ainda mais por terem sido continuados, o que culmina em aumento de pena”, afirmou a promotora. Ainda segundo Henriqueta de Belli, foi a partir de um pedido da mãe de Karina Buhr que a cantora decidiu não ir em frente com a denúncia, no início de 2019.

“A versão dela é muito coerente, com detalhes muito precisos. Na época, ela pediu um tempo para falar com a mãe dela, que não sabia do caso. Foi aí que ela desistiu, porque havia relatos dele ser muito violento e vingativo. E ele sabia que a mãe dela morava sozinha numa casa. A mãe dela, por medo, pediu que ela não fosse em frente com a denúncia”, afirmou.

No texto publicado por Karina, a cantora afirma que foram 4 anos de abusos e que, em três ocasiões, ocorreram estupros. “Pra mim é difícil explicar como 3 estupros porque o que sinto é que foi um longo estupro de 4 anos. Foi um período de trevas absolutas e o que me move a falar isso agora é finalmente ter força pra conversar com minha mãe (que dor ter que ver ela desesperada com tudo isso) e pedir pra ela ser forte porque o revés não sei qual vai ser”, afirmou, na carta, Karina Buhr.

Filha de Dito D’Oxóssi, a professora Alana Quirino afirmou nunca ter ouvido falar da denúncia de Karina Buhr. Ela criticou a cantora ter feito o relato num momento tão próximo da morte do babalorixá. “Fico muito triste porque também sou feminista, sou de luta, de resistência, e não admito que ela venha se pronunciar num momento de tanta dor. Se meu pai fez isso com ela, ele vai pagar, mas ela deveria ter denunciado isso há muito tempo”, afirmou Alana. G1