O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) interrogou cinco testemunhas do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e o médico Rodolfo Cordeiro Lucas, acusado de tentar matar a médica Sattia Lorena Patrocínio Aleixo, em julho do ano passado. Os depoimentos foram dados durante uma audiência de instrução e julgamento, nesta segunda-feira (26).

De acordo com o TJ-BA, Sáttia Lorena Patrocínio, que caiu do 5° andar do prédio em que morava com o médico, durante uma briga, assistiu a audiência por vídeo. O órgão explicou que o processo vai aguardar as alegações finais e para ser concluso para sentença.

A assessoria do advogado Gamil Foppel, responsável pela defesa de Rodolfo Cordeiro Lucas, informou que a Sáttia Lorena também foi ouvida. No entanto, a informação não foi confirmada pela Justiça, que detalhou apenas que a médica assistiu a audiência.

Ao ser questionado, a assessoria de imprensa do TJ-BA informou que o processo tramita em segredo de Justiça, que solicitou algumas informações para unidade onde tramita o processo e aguarda o retorno.

Em agosto deste ano, a denúncia do (MP-BA) contra Rodolfo Cordeiro Lucas foi recebida pela Justiça da Bahia. Com isso, Rodolfo Cordeiro Lucas passou da condição de suspeito a réu do processo em que é acusado de cometer o crime de feminicídio na modalidade tentada.

O pedido de prisão preventiva apresentado pelo promotor de Justiça Davi Gallo ainda não foi avaliado pela Justiça.

Segundo a denúncia, no dia 20 de julho do ano passado, por volta das 0h30, Rodolfo Cordeiro, após agredir fisicamente Sattia Lorena, empurrou-a na direção da janela do quarto do casal do apartamento onde viviam. O imóvel fica no 5º andar do Edifício Serra do Mar, no bairro de Armação.

Conforme o documento, o suspeito teria forçado que as mãos da médica, que as mantinham dependurada na janela, se soltassem, o que provocou a queda de uma altura de 15,5 metros, causando graves ferimentos.

O promotor de Justiça Davi Gallo, responsável pelo caso, ressaltou que o motivo do crime foi torpe, pois a “ação criminosa foi precedida de ameaças pelo agressor em face da vítima, reiterados momentos antes do desfecho trágico, e as quais decorreram do sentimento de posse e da não aceitação da ruptura do relacionamento pelo agressor”.

Davi Gallo complementou que a vítima não teve qualquer chance de defesa, pois foi enforcada e agredida pelo denunciado, “desvencilhando-se em determinado momento” e permanecendo em pé em cima da cama do quarto do casal.

Nesse momento, de acordo com o promotor, Sáttia, acuada, teria sido empurrada pela janela e tido suas mãos desprendidas pelo denunciado do local que apoiava quando tentava se segurar, caindo em seguida.

No dia 15 de julho, o MP também pediu para a Polícia Civil fazer uma nova reconstituição do caso. De acordo com o órgão, a nova reconstituição pedida deve conter a versão dos fatos dada pela vítima. A primeira foi questionada pela defesa do investigado.

Após recebimento da denúncia pela Justiça, o advogado Maurício Vasconcelos, que representa Sáttia, falou que espera levar Rodolfo ao tribunal do júri.

“É o desfecho daquilo que nós já sabíamos, que de fato houve uma tentativa de homicídio perpetrado contra a mesma [Sáttia], que quase a levou à morte e que ainda deixa sequelas terríveis, não só no campo físico, como emocional. E nós vamos aguardar a instrução, na certeza de que tudo isso será confirmado, e esperar que o denunciado seja levado a julgamento perante ao tribunal do júri. Essa é nossa expectativa”, falou.

O que diz a defesa de Rodolfo Lucas

Em nota, a defesa do réu afirmou que “a decisão de recebimento é precária, baseada, unicamente, no despautério acusatório”. Disse ainda que após apresentação da defesa, o recebimento da denúncia “certamente será revisto pela autoridade judicial”.

Ainda na nota, a defesa de Rodolfo Lucas diz que “a denúncia e o pedido de prisão feitos pelo MP são vazios tecnicamente e não contêm um único elemento que possa justificar os seus processamentos”.

Depoimento da vítima

Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo disse em depoimento à polícia que, no dia da queda, Rodolfo Lucas falava que ia acabar com a vida dela. A informação consta em documentos do segundo depoimento de Sáttia, que foram obtidos com exclusividade pela TV Bahia.

Sáttia prestou um depoimento ainda no hospital, mas não se recordava de detalhes do dia do ocorrido. Após deixar a unidade de saúde, ela prestou o segundo depoimento, no dia 28 de setembro.

Na ocasião, Sáttia contou à polícia que, no dia 20 de julho de 2020, quando caiu da janela do apartamento, lembrou que Rodolfo estava segurando o pescoço dela, ameaçando cortar o rosto dela e dizendo que iria acabar com a vida dela.

Durante a semana, antes da queda, Rodolfo teria dito que se ela terminasse o relacionamento, ele acabaria com a vida dela. Conforme consta no depoimento, Sáttia achou que fosse “brincadeira”. Ela ainda relatou que ao partir para cima dela, no dia da queda, ele repetia: “Eu avisei”.

Ela também recordou do momento em que estava na janela. Disse que teria gritado por socorro, falando que não queria morrer, e que Rodolfo soltou as mãos dela. Sáttia negou que tenha tentado suicídio, versão dada pelo suspeito.

Ainda no depoimento, Sáttia disse à polícia que vivia um relacionamento abusivo com o médico. Rodolfo, segundo contou, já a agrediu com puxões de cabelo, socos e já até esfregou um pano no rosto dela para retirar a maquiagem que ela usava.

Sáttia falou também que sofreu, no relacionamento, agressões psicológicas e físicas. Durante uma briga, ela disse que sofreu um corte ao ser empurrada por Rodolfo.

Segundo ela, Rodolfo estava acostumado a usar medicamentos psicoestimulantes e antidepressivos, insistindo para que ela também os tomasse.

A médica contou que não lembra do momento em que recebeu socorro, apenas se recorda de quando já estava no Hospital Geral do Estado (HGE), primeira unidade onde recebeu atendimento.

Ao final do depoimento, ela disse que Rodolfo já falava para ela, antes mesmo da queda, que quem tem dinheiro no Brasil sai impune e não sofre as consequências dos seus atos. G1