Em São Paulo para uma série de eventos, Ciro Gomes foi saudado como único candidato que, em todas as simulações de segundo turno, derrotaria Jair Bolsonaro. Mas declinou do elogio. “O que eu quero agora é voto”, brincou. Apesar do aceno, o candidato derrotado do PDT preferiu não cravar suas ambições para 2022.

Perguntado se vai ou não concorrer à presidências nas próximas eleições, ele baixou o tom. “Vou pensar antes 100 vezes.” Mas prometeu “lutar muito” e manter o estilo combativo que divide opiniões à esquerda e à direita. “Se meu partido quiser que seja, eu acabo adquirindo o entusiasmo que nunca me faltou. Mas eu não vou agir com a prudência de candidato”, disse.

Ciro não economizou nas críticas à oposição. Para o pedetista, a inteligência brasileira está “presa em rosa e azul, em mamadeiras”, enquanto assuntos como o laranjal do PSL e a tragédia de Brumadinho sumiram dos jornais em meio aos factoides e gafes do presidente. “Elegeram um garoto de 13 anos. Um adolescente tuiteiro.”

Presidenciável ou não, o candidato derrotado do PDT falou sobre Reforma da Previdência, carga tributária, e detalhou o que pensa para o futuro do Brasil. O evento foi promovido pelo Iree (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa).

Ciro insistiu na necessidade de um novo ciclo de industrialização, que supere a dependência de investimento estrangeiro e satisfaça o perfil de consumo das famílias. “É a ilusão que vamos pagar esse modo de consumo moderno com feijão, soja, milho e carne in natura. Essa conta não fecha.” Seu projeto, diz, é baseado em três eixos: indústria da saúde, agronegócio e defesa.

O pedetista saiu em defesa dos subsídios ao agronegócio e fez previsões catastróficas sobre o futuro do setor sob a doutrina ultraliberal de Paulo Guedes. “Guedes acha que qualquer subsídio é perversão. Vai quebrar o agronegócio brasileiro em 24 meses por pura interdição mental”, disse, citando as exportações de soja para a China. “Caiu pela metade por causa esse bando de boçais que está brincando de governar”.

Ele também criticou a conivência dos militares com a fusão entre a Embraer e a Boeing, que dará à americana o controle de 80% do capital de um novo grupo, líder na fabricação de aviões comerciais. “Compraram a Embraer para fechar, e esses canalhas que estão no governo, inclusive os militares, disseram amém.”

Previdência

Ciro confirmou a posição do PDT em participar da comissão que vai discutir a Reforma da Previdência na Câmara, e adiantou a posição do partido: “Nosso papel é conter danos, minimizar os prejuízos para os mais pobres, as mulheres, para os professores, policiais, para quem trabalha em áreas insalubres.” E alfinetou os parlamentares do PT. “Se o PT não vai para a comissão, o PDT vai. O quanto pior, melhor, não nos interessa.”

A ausência dos militares no texto enviado ao Congresso foi criticada. Segundo ele, não há como pedir sacrifícios dos mais pobres se a PEC não contempla o judiciário e as Forças Armadas. “99% do oficialato superior brasileiro se aposenta com menos de 55 anos. O salário judiciário é de 18.800 reais. Cadê a previdência pra eles?” (Informações do Carta Capital) Foto: Reprodução