O ciúmes e as supostas humilhações vividas dentro  de casa serviram de justificativa para o assassinato da enfermeira Mariana Angélica Borges de Souza, 28 anos, e o namorado dela, o servidor público André Couto Passos, 25 anos. Eles foram assassinados na madrugada de terça-feira (23), a golpes de facão, dentro do apartamento onde morava a vítima, no bairro de Matatu de Brotas.

O suspeito de matar Mariana e André confessou o crime em depoimento à polícia. O homem, identificado como David Silva Barbosa, 45 anos, tinha uma relação com a mãe de Mariana e afirmou que tinha ciúmes da maneira como a companheira tratava a filha única. David morava com mãe e filha havia cerca de sete anos.

“Ele foi interrogado e confessou a prática do homicídio e do feminicídio, alegando que era humilhado no relacionamento, tinha muito ciúme da mãe, da relação entre mãe e filha, que a mãe era muito dedicada à filha única. Ele se sentia humilhado nessa relação, de morar na casa delas”, disse a delegada Pilly Dantas, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). “Ele tinha certo ciúme das regalias que a mãe oferecia à filha”.

A delegada contou que houve uma briga durante a madrugada, quando André estava na casa, trancado em um quarto com Mariana, e David arrombou a porta depois de ouvir risadas, acreditando que eram direcionadas a ele. “Ele disse que ouviu risos, chacota de dentro do quarto e reagiu a isso invadindo o local”.

 “Houve uma discussão ontem, durante a madrugada. Mariana estava com o namorado em casa, mas não seria nada relacionado a David. Durante a discussão, ele invadiu o quarto dela, arrombou a porta, iniciaram a discussão, que foi se acalorando. O casal se defendeu dentro do possível, mas o agressor é, realmente, uma pessoa alta, corpulenta e passou a golpeá-los com uma faca, inicialmente. Mariana foi lesionada primeiro, provavelmente também foi a primeira a morrer. A luta corporal teve continuidade e todo apartamento foi quebrado: objetos, móveis. O rapaz tentou se defender, mas David pegou um facão e continuou as agressões até que André não teve condições mais de resistir”, acrescenta.  Segundo a delegada, David afirmou que Mariana interferia no relacionamento dele com a mãe.

“Ele dizia que Mariana não queria que a mãe emprestasse cartão para fazer compras, queria que a mãe não fizesse comida para ele, que ele fosse responsável por si. Todas trabalhavam, menos ele. Nada mais justo que, então, lavasse a própria roupa, cozinhasse a comida, pois todo mundo tinha atividade laboral e ele estava em casa o dia todo”, conta a delegada.

Relacionamento 

De acordo com vizinhos, ele tinha um relacionamento com a mãe de Mariana, que não estava em casa no momento do duplo homicídio. “A mãe mora aí, mas trabalha durante a madrugada cuidando de uma idosa”, disse uma vizinha, que preferiu manter a identidade em sigilo.

Uma outra vizinha, que também preferiu o anonimato, acordou com o barulho na residência onde o casal foi morto na madrugada. Ela afirma que os gritos eram muito altos e que a maioria das pessoas que moram próximo foram acordados pela situação.

“Foi muita confusão. Um barulho muito grande, com gente gritando por socorro depois das 3h. Gritou tão alto que acordou a vizinhança toda e chamaram a polícia, que chegou rápido. Porém, quando chegou, já tinha matado os dois”, conta ela.

“Chegou uma moradora, que depois ficamos sabendo que se tratava da mãe da vítima, que permitiu que a polícia entrasse na casa. A porta estava trancada, apesar de ter a chave, ela não conseguia entrar e permitiu que a polícia entrasse”, relatou um policial em entrevista à TV Bahia.

Dentro do imóvel, os policiais encontraram o casal e o suspeito caídos no chão. “Uma terceira pessoa que estava ao solo não estava em óbito e tinha poucos ferimentos. Provavelmente, estava simulando uma inconsciência e fizemos a leitura de que seria o autor do duplo homicídio”, contou um policial.

Enfermeira

Mariana trabalhava como enfermeira no Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba). No instituto, os colegas de trabalho estavam consternados com o caso, mas preferiram não dar mais informações sobre o tempo de trabalho da vítima. O Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA) também confirmou o vínculo de Mariana com a instituição e divulgou nota de pesar sobre o duplo homicídio.

“A perda de Mariana, que trabalhava no Iperba, e André é uma tragédia que abala não apenas seus familiares e amigos, mas também toda a comunidade. É uma lembrança dolorosa de como a violência sem sentido pode ceifar vidas preciosas, deixando um vazio que jamais será preenchido”, escreve. A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) também divulgou nota, lamentando o feminicídio e se solidarizando com os familiares. Correio da Bahia