Apesar da demora em “entrar em campo” nas discussões sobre as eleições em 2020, o governador Rui Costa deu sinais de como deve se comportar no embate do próximo ano. Em entrevista a Mário Kértesz, o chefe do Executivo apontou que vai buscar a polarização entre o grupo político liderado por ele na Bahia e aqueles adversários que, segundo as palavras do próprio petista, endossam as políticas do governo Jair Bolsonaro. É meio lógico, porém é sempre bom perceber quando as estratégias são postas na mesa.

A participação de Rui no pleito, conforme o discurso adotado até aqui, será baseada na dicotomia entre “nós” e “eles”. É o conceito de polarização extremamente comum na política, mas muito acirrado ao longo dos últimos anos. O investimento foi tão intensificado de 2013 para cá que os movimentos petistas e antipetistas ganharam força a ponto de dominar o noticiário quando se trata de eleição. Foi dessa incubadora que ascendeu politicamente o presidente Jair Bolsonaro e é daí que se criam os principais pontos a serem explorados nas proposições eleitorais.

Rui vai buscar atrelar aos adversários políticos, em especial os ligados ao prefeito de Salvador, ACM Neto, o ônus de manterem uma relação próxima com Bolsonaro e as medidas consideradas impopulares adotadas pelo presidente. É exatamente a estratégia que o grupo que aqui na Bahia é capitaneado pelo DEM adotou em 2016, pouco após o afastamento definitivo de Dilma Rousseff do poder. Só que com sinais contrários. O desafio é fazer com que essa percepção pregada pelo governador venha efetivamente a “grudar” nos opositores.

O próprio ACM Neto identificou que Rui e seus aliados devem adotar essa postura. Tanto que, em discursos públicos, o prefeito tenta, de alguma forma, não se vincular integralmente a Bolsonaro. No mesmo momento em que o governador falava sobre essa estratégia, em entrevista ao programa “Isso é Bahia”, na A Tarde FM, o presidente estadual do DEM, deputado federal Paulo Azi, criticava a polarização política no Brasil, em um contraponto aos investimentos recentes do petismo, especialmente após a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão.

Essa dualidade é essencial do ponto de vista de construção discursiva para os embates nas urnas. Na Bahia, temos dois grupos políticos disponíveis que seriam diametralmente opostos, se não houvesse um nível de polarização que, de alguma forma, criasse uma interlocução entre si. Rui está longe de ser o petismo clássico. E ACM Neto também está a alguns quilômetros de distância do bolsonarismo. Por incrível que pareça, essas diferenças muito mais aproximam do que afastam esses dois grupos – ainda que neguem com veemência.

Por enquanto, todas as lideranças ainda estão numa fase de planejamento de como devem efetivamente se comportar durante a eleição. No entanto, já é possível identificar quais serão as principais vertentes. E os dois grupos vão tentar explorar as falhas dos adversários. Caberá aos eleitores identificarem o que é meramente estratégia discursiva ou o que é uma realidade sem tantas meias-verdades. Por Fernando Duarte/Bahia Notícias