O grande gargalo para o futuro do mercado de trabalho é que todos os fatores que geram benefícios nos últimos meses têm data para acabar. Cessados os repasses do Auxílio Emergencial e feita a reabertura da economia quando os números da pandemia permitirem, a busca por emprego deve subir imediatamente.
“A sensação é que, de fato, o fundo do poço passou. Mas isso não significa que a taxa de desemprego vai começar a cair”, afirma o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.
“Pelo contrário. A taxa de desemprego vai subir porque as pessoas não estão procurando emprego por causa do isolamento social”, afirma Camargo. “As pessoas já estão desempregadas, só que elas não estão procurando emprego e, portanto, não aparecem na estatística como desempregadas”.
Pelas projeções da Genial, a taxa de desemprego deve encerrar este ano próxima de 18% – mais de 5 pontos percentuais acima dos 12,9% de maio.
A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, acredita ainda que mudanças estruturais devem atingir o mercado de trabalho ao fim da pandemia. A redução da presença física em escritórios, por exemplo, deve impactar rendimentos de serviços que dependem da circulação de pessoas para sobreviver.
É um baque que se espera em áreas como comércio, restaurantes, transportes e demais serviços cuja mão de obra é mais barata e pouco qualificada. Adoção maior de tecnologia também deve afetar viagens a trabalho e hotelaria.
“Há realocação de setores mais tradicionais para mais tecnológicos. A pandemia trouxe uma mudança permanente na forma de produzir e consumir, que são poupadoras de mão de obra e utilizam um trabalho mais qualificado.”, diz.
Para Solange, o pouco espaço fiscal não permite subsidiar por mais tempo as medidas atuais, ainda que tenham dado certo em momento de emergência. A estimativa da ARX é um aumento para 16,5% nos dados de desemprego.
“Ainda que se tenha outro programa de incentivo, se for nos moldes de manter vivo o teto de gastos, não vai gerar uma renda adicional significante. E essa queda da renda vai interferir no consumo e crescimento.”
Na avaliação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), há duas preocupações com o futuro do emprego no país. O instituto também estima que o desemprego vai crescer até o fim do ano: 13,1%.
Do lado dos informais, os números do mercado de trabalho devem ser pressionados no momento em que esse contingente voltar a procurar emprego. Entre os formais, há ainda a dúvida sobre a disposição de patrões que requisitaram suspensões de contrato em manter o corpo de funcionários quando o período de carência terminar e estiverem liberados para demitir.
“Quando o programa acabar, existe uma dúvida se o empresário vai estar com fôlego para sustentar a folha que pagamento”, afirma o economista do Ibre/FGV Rodolpho Tobler. “O que a gente tem visto é que há uma incerteza muito grande.”
A MB Associados projeta um salto para 17% no contingente de desempregados. A consultoria vê com preocupação a falta de reação dos grandes empregadores, dado que o puxador do PIB neste ano, deve ser o agronegócio – que emprega pouco se comparado à indústria e serviços.
“É uma economia que está com uma queda forte de PIB, muitas empresas em recuperação judicial ou fechando”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Os pequenos negócios que perdemos vão gerar um contingente grande de pessoas que não conseguem se recolocar.” G1