A descoberta de um esquema de envio da droga da ‘família K’, conhecida como K2, K9, spice e, erroneamente, chamada de maconha sintética, no último dia 28 de maio em Santo Estêvão, alertou as autoridades baianas para a chegada de um dos entorpecentes mais perigosos já inventados. Extremamente viciante, a nova substância é responsável por causar um estado de letargia mental, uma espécie de “efeito zumbi”, ou seja, faz com que o usuário se comporte como os personagens fictícios mortos-vivos, vistos em obras de ficção.

Os 5 kg da droga encontrados em Santo Estêvão tinham como destino uma organização criminosa com atuação no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador. Esta já é a quarta apreensão do entorpecente em território baiano só este ano. Preocupado com essa crescente, o Portal A TARDE conversou com autoridades e especialistas da Bahia e São Paulo, onde a droga já se tornou um problema de saúde pública, para entender e explicar ao leitor os perigos que a nova substância pode trazer.

“É uma droga com um alto poder viciante, inclusive é mencionado que é muito mais viciante que o crack, além de ser muito mais barata. Então, é uma droga que pode se popularizar rapidamente. É importante também registrar que não se deve falar de ‘supermaconha’, justamente para evitar qualquer tipo de comparação a maconha e até estimular seu consumo”, disse o delegado Yves Correia, coordenador de Narcóticos do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), em entrevista exclusiva.

Se na Bahia o número de apreensão e consumo ainda é considerado baixo, em São Paulo a droga já invadiu os presídios e bairros mais carentes. Em 2021 foram localizados 1,5 kg. Este número subiu para 11 kg no ano seguinte e aumentou para 19 kg em 2023, até o momento, segundo o delegado Carlos César Castiglioni, do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil de SP. Ou seja, um aumento de mais de 1000% no período de dois anos.

Originalmente, a droga surgiu com o nome de K2, fazendo alusão a uma das montanhas mais altas do mundo, localizada na Ásia, para dizer que quando a pessoa usa ela fica ‘alta’, no ‘hype’. Carlos César Castiglioni, delegado da Denarc de SP

Ele ainda explica como as drogas K chegaram ao estado mais populoso do país e se alastraram tão rapidamente. “Há uns cinco anos começou a surgir, mas ainda sem expressividade. Houve um aumento muito grande da quantidade de apreensões nos últimos anos”. Para ele, a rota de entrada do entorpecente, criado para reproduzir os efeitos da maconha, mas que deu errado, foram os presídios paulistas.

Uma das formas encontradas por usuários para utilizar as drogas K é através de um cigarro normal de nicotina. Outra maneira seria borrifar a substância em papel, foi assim que a droga invadiu os presídios paulistas. “É como surgiu aqui [em SP], entrando na cadeia. A gente entende que a porta de entrada das drogas K foram as cadeias. Essas drogas em papel, dada uma semelhança a LSD, que você põe na língua, a gente chama de K4 ou K9”, essa artimanha dificultaria a identificação do produto, facilitando o ingresso”.

O grande problema que a gente tem visto é que cada vez que apreendemos esta droga, ela está com uma composição diferente. Carlos César Castiglioni, delegado da Denarc de SP

Drogas K na Bahia