Após o episódio em que a cantora Marília Mendonça fez um comentário transfóbico durante sua live, o mundo sertanejo foi envolvido novamente na pauta. Desta vez, a dupla Pedro Motta e Henrique lançou a faixa “Lili”, que conta a história de um homem que se sente enganado ao descobrir que sua amada é uma mulher trans. Ao tomar conhecimento da letra, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais divulgou uma carta se posicionando contrária ao conteúdo.

“Somos da Associação Nacional de travestis e transexuais, uma instituição que atua pela defesa dos direitos humanos das pessoas trans no Brasil.E gostaríamos de conversar com alguém a respeito desta música ‘Lili’, que se utiliza do que temos chamado de transfobia recreativa para promover violência simbólica e psicológica através da chacota contra a população de travestis brasileiras”, reforçou.

“Talvez vocês não saibam, mas o Brasil é o país que mais assassina travestis do mundo por ódio que muitas vezes é ncentivado por isso tipo de piada de extremo mau gosto. Estamos a disposição para o diálogo. E a nossa recomendação é que desde já vocês cancelem o lançamento e a divulgação, pois a música é flagrantemente discriminatória. Acreditamos que é possível que tenham se equivocado na produção desse tipo de conteúdo e por isso estamos entrando em contato para podermos tirar as dúvidas sobre o porque ela ser problemática”, encerrou.

Os músicos gravaram um vídeo na tentativa de se justificar, mas cometeram novos erros. “Estão nos chamando de homofóbicos. Gente, de forma alguma! Nunca vocês ouviram que Pedro Motta e Henrique é homofóbico. Pedro Motta e Henrique está zoando a pessoa”, pontuou Pedro, ignorando a diferença entre sexualidade e identidade de gênero.

Já Henrique reforçou que eles têm até “muitos amigos gays”, mas que não irão se pronunciar publicamente “por medo”. “A gente não está aqui pra menosprezar a imagem de vocês. “A gente fala que o amor da nossa vida é um travesti, né, parceiro, e não sabíamos. Ou é uma travesti, como vocês estão falando. A gente pede desculpa a todos que estão nos interpretando mal. Sei que vai ter muita crítica nesse vídeo mas, de forma alguma a gente veio pra menosprezar a imagem de vocês”, continuou Pedro. A co-vereadora intersexo Carolina Iara, da bancada feminista do PSOL, de São Paulo, se posicionou a respeito da polêmica.

“O refrão é ‘fui enganado, me apaixonei por UM travesti’. Nisso já existem vários problemas. Fazer uma música dizendo que as pessoas trans não são de verdade, que elas são enganação, já é um problema. Você tratar as pessoas travestis no masculino é outro problema. E aí tem um terceiro problema, muito grave: essa narrativa de que os homens saem conosco enganados. Isso é mentira, gente”, afirmou. “O Brasil é campeão de consumo de pornografia trans no mundo. É aqui que mais se consome pornografia de travestis e transexuais. É aqui também que mais se mata travestis e transexuais, em maioria em seus locais de trabalho, a prostituição”, finalizou.