Foto: Carol Garcia/Reprodução

Uma rápida análise sobre o panorama eleitoral no interior confirma que o PSD, do senador Otto Alencar, e o PP, do vice-governador João Leão, tiveram as melhores performances partidárias na Bahia no último domingo. O primeiro alcançou a marca de 108 prefeitos, ao passo que o segundo, cravou 92. Os números se sobressaem ainda mais quando se observa o resultado que o PT obteve nas urnas. O partido do governador Rui Costa conseguiu eleger 32 prefeitos, uma marca da qual os próprios petistas se queixam, ao lembrar que a sigla completará, em 2022, 16 anos no comando da máquina estadual.

Para eles, tempo suficiente para que a legenda, se não tivesse chegado ao ponto de predominar entre as 417 prefeituras do Estado, ao menos se equiparasse numericamente ao patamar a que chegaram os dois aliados mais fortes, muito provavelmente às custas das benesses governamentais que seus principais líderes, muito habilidosamente, conseguiram demonstrar, ao longo das anos, que sabem muito bem aproveitar. Se o raciocínio é correto, a leitura, portanto, é a de que em seus 14 anos completados no poder na Bahia, o grande feito do PT, na verdade, foi, do ponto de vista partidário, promover o fortalecimento do Centrão no Estado.

Afinal, é exatamente o campo político a que o partido de Otto e o de Leão, sem o menor demérito aos dois, pertencem. Os petistas avançam em outra avaliação que é, na verdade, compartilhada, até certo ponto com rancor, pelos chamados aliados históricos. O crescimento do PP e do PSD pode ter custado o fortalecimento de agremiações que há anos acompanham e, na verdade, chegaram a se abrigar sob o guarda-chuva do PT, a exemplo do PSB e do PCdoB, as quais, no entanto, jamais tiveram o mesmo espaço na máquina estadual que o partido do governador conferiu a PSD e PP na Bahia.

Na eleição de domingo, por exemplo, o PSB de Lídice da Mata bateu a marca de 30 prefeitos, em parte ajudado pelo esforço do deputado federal Marcelo Nilo, que fez boa parte deles, e o PCdoB conseguiu eleger representantes para 16 prefeituras. De uma conversa rápida com dirigentes e políticos dos dois partidos sobre o desempenho geral das forças de esquerda no Estado, é possível extrair uma explicação, que é ao mesmo tempo também um lamento, para o fenômeno. O projeto hegemônico do PT na esquerda permite que o partido aceite pagar o preço de fortalecer o Centrão, mas jamais, em hipótese alguma, os partidos do mesmo campo ideológico.

O resultado mais imediato para o comportamento, na visão destes mesmos parceiros do petismo, é que, com o modelo de coalizão que o partido montou na Bahia para governar, em que as legendas do Centrão foram adquirindo mais protagonismo do que os segmentos esquerdistas, as políticas públicas pensadas para o Estado tiveram menos a sua marca do que, para uma gestão que se propõe de esquerda, deveriam ter. O desafio maior, no entanto, o PT vai enfrentar daqui a dois anos, quando tentar eleger o sucessor de Rui. O Centrão baiano, que tanto se beneficiou da relação com ele, vai se manter fiel ao petismo? É a pergunta que fazem. (Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna)