Senado

Noves fora Kajuru, a guerra política pela instalação da CPI da Covid no Senado teve dois personagens: um político já conhecido, de quem se espera muito pouco (Jair Bolsonaro), e um político desconhecido de quem se espera de mais (Rodrigo Pacheco). De Bolsonaro, se espera de menos porque ele já completou um ano de bons serviços prestados ao vírus e dois anos de favores à instabilidade política do país. Dali, não vem nada. Só confusão.

De Pacheco, se espera muito porque o Brasil sonha com um novo Tancredo. Um político habilidoso, aglutinador e capaz de guiar o país para uma nova era, superando o obscurantismo. O problema é que Pacheco ainda é uma incógnita: ele se apresenta como um Tancredo, mas pode ser um Alkmin. Não o paulista, que tem C no nome, mas o mineiríssimo José Maria Alkmin, o primeiro vice-presidente civil do golpe de 64.

A mineirice em lados opostos

Tancredo, com sua mineirice, conseguiu driblar todas as listas de cassações da ditadura, e logo cedo bandeou-se para a oposição. Décadas mais tarde, caberia a ele dar a punhalada fatal no arbítrio, com sua eleição indireta para presidente. Prestou um grande serviço à democracia.

Tão mineiro e hábil quando Tancredo, Alkmin conspirou para o golpe com o então governador de Minas, Magalhães Pinto, e emprestou uma cara civil ao primeiro governo da ditadura. Foi vice do marechal Castello Branco e é descrito pela história como um número dois discreto. Silenciou mais do que falou. E com isso, prestou um grande serviço ao autoritarismo.

E Pacheco, esse ilustre desconhecido? Sua mineirice está a favor da democracia ou do bolsonarismo, a nova face do autoritarismo? Onde termina a moderação do político mineiro e começa a omissão? Os sinais são preocupantes, mas ainda não é possível cravar que estamos diante de um Alkmin travestido de Tancredo. Mas o tempo joga contra Pacheco. Para quem acredita em coincidências, nesta terça (13) Pacheco se comportou como Alkmin. Mas poderia ser Tancredo, como revela a história a seguir:

Todos têm razão

Numa festa no interior de Minas, Alkmin recebe um vereador do PSD que ataca um rival da UDN. Depois de ouvi-lo, afirma:

– Você tem razão, meu filho!

Depois, Alkmin ouve o udenista atacado falar mal do vereador que acabara de sair.

– Você tem razão, meu filho – diz Alkmin.

Um assessor que tudo acompanhava se espantou ao ver o chefe dar razão aos dois.

Alkmin ouve e responde ao assessor:

– Você tem razão, meu filho.

Foi exatamente o que Pacheco fez ontem no caso das duas CPIs.

(Aos mais novos: seria impossível contar essas história se não fosse o jornalista Sebastião Nery.)  Por Octavio Guedes/G1