(Ana Lúcia Albuquerque/CORREIO)

Tema de chá, motivo de polêmica na família ou razão de bullying sofrido nas escolas. Seja qual for o caso, o nome pode ser a resposta. Indispensável para a identificação de qualquer cidadão, ele não só atesta existência, como também anuncia singularidades atribuídas pelos papais e mamães. Entre os baianos, os mais escolhidos para registro de bebês em 2022 foram Gael e Maria Alice, que tiveram inspirações em nomes de filhos de famosos, conforme indica a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).

Líder do ranking pelo segundo ano consecutivo com 2.457 mil registros no estado, Gael foi o nome escolhido para o filho da influencer Zoo e do youtuber Christian Figueiredo. Já Maria Alice, que apareceu na 7ª posição no ranking de 2021, assumiu a liderança no ranking feminino e ocupou a 6ª posição geral com 1.439 registros em 2022, ano em que a influencer Virginia Fonseca deu para sua bebê esse mesmo nome.

Para o vice-presidente da Arpen-BA, Christiano Cassettari, a predileção dos baianos por esses nomes não se trata apenas de coincidência. “O que nós percebemos é que o nome escolhidos por atores e atrizes, influencers e youtubers acabam sendo os preferidos. Esse é o caso do Gael e da Maria Alice”, reitera.

Em 2017 e 2018, Arthur e Maria Eduarda foram os nomes mais escolhidos para bebês do sexo masculino e feminino, respectivamente, na Bahia. Em 2019, Enzo Gabriel e Maria Cecília tomaram a liderança. Em 2020, a dupla Arthur e Alice figuraram no topo, cedendo espaço para Gael e Laura em 2021. Desde então, Gael se manteve e a novidade da vez no nome feminino foi Maria Alice.

Pode chamar atenção, no entanto, que os nomes mais registrados nos últimos seis anos sejam masculinos. Isso porque, na Bahia, apesar de nascerem mais meninos, a população é mais feminina. Essa fator se deve ao fato de que, além dos homens terem uma expectativa de vida menor em razão de diferentes marcadores sociais, a taxa de sobrevivência até o primeiro ano é menor entre os meninos, como apontam os dados de Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020.

A Arpen-BA ainda esclarece que não há relação entre a quantidade números de bebês nascidos com a quantidade de nomes mais escolhidos para cada bebê, uma vez que podem nascer 40 meninos com nomes diferentes entre si ou todos com nomes idênticos que estejam fazendo sucesso.

Com plano inicial de chamar seu bebê nascido há dois meses de Anthony, a operadora de caixa Ana Paulla Santos, 21, conta que mudou de ideia ao longo da gravidez e decidiu por Gael justamente ao ver que o nome estava em destaque. “O nome do pai dele é Gabriel, então eu tive a ideia de colocar Gael, porque é um nome em alta e eu gostei muito”, afirma.

Mãe de primeira viagem, a técnica administrativa Sara Andrade, 22, por outro lado, relata que escolheu o nome do seu bebê, de apenas um mês de vida, antes mesmo de engravidar. “Gael foi um nome que eu sempre gostei e pensei que, quando engravidasse, seria o nome que eu ia colocar por ser um nome pequeno e por ter um belo significado. Perguntei se o pai estava de acordo, ele disse que concordava e nós decidimos colocar”, diz.

Na liderança de nomes femininos, o nome Maria Alice deu um salto nos últimos anos. Do ranking dos últimos 6 anos, foi somente em 2019 que o nome apareceu, ocupando o 6º lugar entre os nomes femininos. Mãe de uma Maria Alice de 2 anos e 4 meses, a vendedora Tauane Rosendo, 20, destaca que escolheu o nome da filha em 2020 sem imaginar que o nome se tornaria tendência. “Eu acho Maria um nome lindo, então eu queria colocar Maria Luiza, mas o pai da minha filha não queria. Ele queria Valentina Alice. Então resolvemos juntar os dois”, recorda.

Perfil dos nomes 

No ranking de nomes registrados em cartórios da Bahia em 2022, Gael, Miguel, Arthur, Heitor e Theo ocuparam as cinco primeiras posições, respectivamente, indicando a preferência dos baianos por nomes curtos. Promotora de vendas, Roberta Nascimento, 22, não esconde que nomeou seu filho de 6 meses de Theo pela facilidade. “A escolha foi por ser calmo no pronunciamento, pelo significado, que é Deus supremo, e porque é a abreviação do nome do avô dele, que é Theogenes”, conta.

Quando assumiu o ranking pela primeira vez, em 2021, o nome Gael conquistou a assistente de finanças Camila Sousa, 25, também pela praticidade. Ela conta que só jogou o nome na internet, gostou do significado e decidiu registrar seu filho, agora com 1 ano de idade. Além de objetiva, a escolha de Camila e outros responsáveis pelos ‘Gaeis’ registrados na Bahia revelam a tendência seguida pelos baianos de optar por nomes simples e com significados bíblicos, como informam os dados da Arpen.

Segundo o vice-presidente da Arpen-BA, os baianos costumam evitar nomes tradicionais quando estes não são bíblicos. É comum encontrar cada vez mais nomes com ‘y’ no lugar convencional do ‘i’, bem como a letra ‘h’ no final dos nomes terminados com uma vogal acentuada. Essa tendência, segundo frisa Christiano Cassettari, tem tudo para se manter. Sua aposta, inclusive, é que nomes com essas grafias figurem no topo do ranking dos nomes mais registrados pela Bahia em 2023.

Luca será o novo Enzo? 

Quando anunciou que o nome do seu filho com o ator Edson Celulari seria Enzo, em 1997, a atriz Claudia Raia certamente não imaginava que seria a autora do lançamento de uma tendência. De 2.088 registros na década de 90, o nome do filho da atriz, amplamente divulgado antes e após seu nascimento, se tornou um sucesso e alcançou 7.013 registros no Brasil nos anos 2000, segundo dados do IBGE.

Só na Bahia, 2.983 bebês foram nomeados de Enzo na década 2000, o que demarcou um salto, visto que nos anos 90 apenas 124 bebês receberam esse nome no estado. Em 2020, o prenome Enzo apareceu na composição do nome Enzo Gabriel, ocupando o 8º lugar no ranking de nomes mais escolhidos pelos baianos, segundo a Arpen-BA. No entanto, com a nova gravidez de Cláudia Raia, aos 55 anos de idade, e com a consequente divulgação de que seu terceiro filho se chamará Luca, o posto de Enzo, e até mesmo de Gael, está ameaçado.

No Brasil, houve registro de cerca de 7 mil bebês com o nome de Luca na década de 2000. Desse número, 360 bebês foram baianos. Agora, com a influência da atriz, a expectativa é de que esse nome fique ainda mais em alta entre os baianos e, se depender dos internautas, isso acontece com muita graça e em primeiro lugar nas redes sociais.

“Acho a Claudia Raia muito ordinária por ter escolhido o nome do filho de Luca, é meu nome preferido pra colocar no meu filho véi”, comentou um internauta no Twitter.

“Meus filhos estudarão com vários Luca na salinha da escola, depois que Cláudia Raia revelou o nome do baby. Aquela que fez uma geração se chamar Enzo. Luca é o novo Enzo”, afirmou outra.

“Gente??? Se eu tivesse um filho agora colocaria o nome de Luca. Tá feliz Claudia Raia?”, brincou mais um.

Mudança de nome 

Desde junho deste ano, é possível a qualquer adulto maior de 18 anos alterar seu nome em Cartório independentemente do motivo, e pais de bebês, em consenso, alterarem o nome do recém-nascido em até 15 dias após o registro de nascimento, de acordo com a Lei Federal 14.382/2022. No Brasil, já foram registradas cerca de 4.970 alterações de nome diretamente em Cartórios de Registro Civil. Na Bahia, apesar desse dado não ter sido informado, o vice-presidente da Arpen-BA, Christiano Cassettari, afirma que já foram feitas diversas alterações.

Segundo Cassettari, os cartórios estão sendo diariamente consultados porque há casos de baianos que buscam fazer alterações leves na grafia e mudar o prenome pelo apelido, mas grande parte busca alterar radicalmente o prenome por não gostar, seja porque não tem mais vínculo com quem o escolheu ou porque sofreu bullying por causa do nome que precisou responder durante a vida toda.

Com a nova lei, que amplia o rol de possibilidades para alteração de nomes e sobrenomes sem a necessidade de procedimento judicial ou contratação de advogados, os baianos têm direito a uma única alteração. Para realizar o ato em Cartório é necessário que o interessado, maior de 18 anos, compareça a unidade com seus documentos pessoais (RG e CPF). O valor do ato é o custo de um procedimento, tabelado por lei, e que varia de acordo com a unidade da federação. Caso a pessoa queira voltar atrás na mudança, deverá entrar com uma ação em juízo.

Já a inclusão do sobrenome, pode ocorrer, além dos casamentos e nos atos de reconhecimento de paternidade e maternidade, na manifestação de aquisição do sobrenome de alguém da linhagem familiar.  Correio da Bahia